“O PSICOLÓGICO DELE NÃO VAI BEM...”
Duas mulheres conversam no busão. Eu, bisbilhoteiro, escuto o papo. Elas falam alto. Impossível não ouvir e prestar atenção. Assim a bisbilhotice fica atenuada. As mulheres são jovens e falantes. A morena de óculos e cabelos encaracolados está inconsolável:
-Ele começou a dar sinais de tristeza há cerca de um mês. Não dei muita importância. Fiz carinho, brinquei, conversei com ele. Achei que o momento difícil seria superado rapidamente.
A moça magrela e lourinha investigou o caso:
-Quais foram os sinais de tristeza? Ele passou por alguma crise recente?
-Apatia, falta de apetite, silêncio... Era visível que o psicológico dele não ia bem. Ele perdeu um amigo atropelado, mas já faz mais tempo.
-Ele não interagia, não brincava com você?
-Nada, nada! Conversei mais de uma vez. Chamei para sair, dar umas voltas, e ele seguiu amuado, sem ação.
-Que coisa triste...
-Com o tempo, resolvi buscar ajuda. Levei-o a uma psicóloga. Ela foi certeira: o psicológico dele estava mal. Recomendou uma terapia.
-E aí?
-Estamos fazendo a terapia. Ele e eu.
-Fazem juntos?
-Sim, um trabalho intenso, com sessões individuais e conjuntas. Tudo com uma pegada lúdica.
-Tá dando resultados?
-Toquinho está melhorando. Já se alimenta melhor, brinca com seu osso e sua bola. Na rua, voltou a correr atrás dos outros cachorros. Está latindo mais, fazendo festa quando chego. Uma gracinha...
-E você?
-Não sei... Ando mal. Entrei em crise com a crise dele. Estou questionando minha capacidade de cuidar de um filho, de um amigo, de um bichinho querido. Meu psicológico não vai bem.
O ponto delas chegou e lá se foram as duas amigas. Toquinho, o pivô da crise psicológica, segue em paz. Sua dona, nem tanto. Riscos do mundo pet.
Antônio Pimentel
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