sábado, 30 de abril de 2011
sexta-feira, 29 de abril de 2011
Registro da fala do silêncio
de José Inácio Vieira de Melo
O que mais tem falado em mim é o silêncio,
mas um silêncio plural – de fogo –
que com sua língua escarlate abrasa as palavras
e as queima antes de serem.
Um silêncio de lá, de longe – das plagas interiores –
que fala o tempo todo sem dar nome ao dito.
Em sonho é imagem: e vejo, inebriado,
a sua cara – semblante formidável:
tão formoso quanto pode ser um deus.
O silêncio, este que fala e de que tanto falo,
é um hieroglífico poema,
e estes versos: tradução e codificação.
"Silêncio completo parece-me tão grave quanto alarido descontrolado."
(Antígona - Sófocles)
quinta-feira, 28 de abril de 2011
Entre livros
Ler é sempre muito bom. Seja uma revista, um artigo, um blog, ou um livro. Hoje passamos muito tempo na Internet, e temos deixado de apreciar o real sabor de um livro de verdade, feito de papel.
Elogio do livro
"Convençam-se: nenhuma escrita digital consigará superar o livro. Porque o papel não é apenas papel. Nele as palavras respiram. Amarelecem. Têm cicatrizes. Carregam anos, anotações de margem, cheiros. Só no papel fazem sentido versos como «Amo devagar os amigos que são tristes com cinco dedos de cada lado», de Herberto Helder. O papel expressa-nos como lume em dia de chuva. Acaricia-nos. É cúmplice dos nossos vestígios que estão para lá do concreto, porque apenas a leitura-escrita primitiva permite a evocação da verdade inalterável das coisas. Da consumação do subjetivo."
quarta-feira, 27 de abril de 2011
Elas e eles
E no dia-a-dia, percebem-se sutis diferenças...
"Visto-me para ocasiões, para personagens. Há mulheres em meu armário, penduradas em meus cabides, uma mulher diferente para cada terninho, cada vestido, cada par de sapatos.
Acumulo roupas. Minha maquiagem transborda das gavetas do banheiro, e há mulheres diferentes para batons diferentes."
Marya Hornbacher
* Dissipada *
Link da tirinha
terça-feira, 26 de abril de 2011
Nossos tempos
domingo, 24 de abril de 2011
Recomece...
FELIZ PÁSCOA!
Este é o dia em que o Senhor fez para nós. Alegremo-nos e Nele exultemos!"
O Senhor ressurgiu, aleluia, aleluia!!!
sábado, 23 de abril de 2011
Das coisas simples
E por um instante somos a areia que a brisa sopra pela praia, só um grão de areia entre os bilhões de grãos que são soprados. Como é bom ser irrelevante. Como é agradável saber que não há nada a fazer. Como é doce simplesmente voltar a dormir, como faz a areia, até o vento resolver acordá-la outra vez.
- Chris Cleave -
(trecho do Livro "Pequena Abelha")
quinta-feira, 21 de abril de 2011
quarta-feira, 20 de abril de 2011
Das coisas simples
MENINO NUVEM
Ontem, por um momento, parei de me preocupar.
Ontem, por um momento, desejei nada, abracei o silêncio e deixei-me levar pelo
Céu, como nuvem bem levinha, que não se importa em que direção o mundo vai girar.
Enquanto nuvem, descobri como é bom não esperar que nada aconteça.
Como é maravilhoso guardar o ar no bolso e segurar o rio com as mãos...
Como é bom fechar os olhos para o relógio e abrir a visão para dentro, enxergando um mundo onde o tempo pára, e a felicidade não é uma montanha que a gente passa a vida inteira tentando escalar.
Como é difícil não complicar! Como é difícil não ocupar o nosso tempo perseguindo algo que não podemos alcançar. Como é difícil se entregar ao silêncio entre dois pensamentos e se deixar levar pelo silêncio que dura uma eternidade...
Silêncio que nos transforma em meninos nuvens brincando no céu, sem pressa de amadurecer em pingos de chuva.
Silêncio que, quando enfim cai como tempestade, se transforma em pingos dançarinos de poças de chuva, enquanto o mundo se esconde sob o peso do guarda-chuva do não se molhar.
Hoje vou tentar novamente virar nuvem que passa; quem sabe com a prática eu acabe virando nuvem floquinho, que em olhar de menino muda de forma e vai indo embora, para onde o mundo levar...
- Frank -
Londres, 11 de Julho 2004.
terça-feira, 19 de abril de 2011
Brincando com a lua
Sempre admirei a fotografia como arte, e encantou-me o trabalho do fotógrafo profissional e jornalista científico, Laurent Laveder.
Todos temos dentro de nós a criança que fomos um dia, e Laurent deu vazão ao seu lado lúdico e criativo com a série de fotografias "Moon Games", composta por diversas imagens que mostram pessoas interagindo com a Lua.
Capturando as cenas por um ângulo específico, o artista faz parecer que o satélite está realmente ao alcance das mãos dos homens e mulheres que, posando para as lentes do artista, brincam de jogá-lo para cima, ou pousá-lo na xícara de café.
Especializado em fotos do céu, Laveder faz parte do coletivo The World At Night, que reúne 30 dos melhores astrofotógrafos do planeta.
Veja mais de seu brilhante trabalho aqui.
domingo, 17 de abril de 2011
Nossos tempos
sexta-feira, 15 de abril de 2011
Das coisas simples
... E quem foi que inventou a "complicação"?
Pode-se viver muito bem
sem nada mais do que estes privilégios quotidianos:
uma carta na caixa do correio, o barulho de uma vaga,
o azul sobre a planície, as palavras de um poema.
O universo reduzido a poucos vínculos
ao trajeto habitual
da sua própria morte.
Pode-se muito bem não ser mais
do que uma aventura de átomos e de questões insignificantes.
Hélène Dorion
in “Pode-se viver muito bem…“
quarta-feira, 13 de abril de 2011
Entre livros
Sonho por vezes que, quando o dia do juízo chegar e os grandes conquistadores, advogados e estadistas vierem receber as suas recompensas – coroas, louros, nomes gravados indelevelmente em mármore imperecível -, o Todo-Poderoso se voltará para S. Pedro e dirá, não sem uma certa inveja, quando nos vir chegar com os nossos livros debaixo dos braços:
— Olhai, estes não precisam de recompensa. Nada temos para lhes dar. Eles amaram a leitura.
Virginia Woolf
segunda-feira, 11 de abril de 2011
Os nossos dias
Era uma vez um menino que gostava de atirar pedras à lua. Quando chegava a noite, refugiava-se nas traseiras do quintal, acariciava as pedras que recolhera durante o dia (para dar sorte) e atirava-as, uma a uma, olhos fixos na lua. Quando sentia o braço cansado, ia para a cama e, exausto, adormecia de imediato. Mas, um dia, o menino foi viver para a cidade, onde já não podia atirar pedras, pois feriria pessoas, partiria vidros, provocaria estragos (disse a mãe). A partir desse dia, nunca mais o menino conseguiu adormecer com facilidade, como antes. E nunca ninguém descobriu porquê.
Paulo Kellerman
domingo, 10 de abril de 2011
Somos tão jovens
"A nossa juventude ama o luxo, é mal educada, zomba da autoridade e não tem nenhuma espécie de respeito pelos velhos. As crianças de hoje são tiranas. Não se levantam quando um velho entra numa sala, respondem a seus pais e são muito simplesmente más"
Sócrates (430-399 a.C.)
"Não tenho nenhuma esperança no futuro do nosso país se a juventude de hoje tomar o mando amanhã, porque estes jovens são insuportáveis e não têm moderação. Simplesmente terrível".
Hesíodo (720 a.C.)
"O nosso mundo atingiu um estado crítico. Os filhos não escutam os seus pais. O fim do mundo não pode estar longe".
Inscrição no túmulo dum sacerdote egípcio (2000 a.C.)
"Esta juventude está podre desde o fundo do coração. Os jovens são maus e preguiçosos. Não serão nunca a juventude de outrora. Os jovens de hoje não serão capazes de manter a nossa cultura".
Inscrição numa olaria de Babilónia (2500 a.C.)
Fonte: Ronald Gibson, British Medical Journal, cit. por "Revista da Armada".
sábado, 9 de abril de 2011
Nossos tempos
Encerra-se hoje, no Rio de Janeiro uma semana diferente. Pode-se dizer que foi uma semana com mais dor e perplexidade do que outras.
Muitos pais e professores começaram aquele dia com um beijo de seus filhos e/ou de seus alunos. Muitos fizeram carinho em seus rostos, passaram as mãos nos seus cabelos, abraçaram e beijaram as crianças. E não é difícil supor que muitos pais ficaram emocionados ao se despedir de seus filhos, deixando-os na escola e indo para mais um dia de trabalho.
(fotografia "O Dia Online")
Hoje, certamente, sua emoção ao pensar nessas crianças é outra. O sentimento que domina pais e professores, e a sociedade de uma maneira geral, é bem diferente.
Pelas ruas percebe-se num rosto a dor; em outros a raiva e a revolta; em muitos o que predomina é a perplexidade. O massacre das crianças acontecido na escola de Realengo nos coloca frente a frente com uma desagradável sensação de impotência, espanto e choque.
Isto acontece em parte por não termos culpados a apontar. O agente do ato insano suicidou-se, está morto e portanto longe de nossos dedos acusadores. O que torna este massacre mais assustador é justamente o fato de não se ter culpados a apontar. Não há um cristo que possa expiar, não há atenuantes... e isto faz com que nosso coração doa mais.
Passado o momento da raiva e da revolta, sobra-nos a dor e o assombro. Nossa cidade, como qualquer outra grande cidade no mundo inteiro, sempre foi e será palco dessas grandes manifestações de violência. Mas este caso é diferente.
(fotografia Victor Caivano/AP)
Quem não se lembra do pobre menino João Hélio ao ser arrastados pelas ruas da cidade... Mas tivemos a polícia para culpar, bem como as entidades de proteção ao menor. Quando as crianças foram mortas e chacinadas na Candelária também tivemos a polícia para apontar o dedo: eles fizeram justiça com as próprias mãos. E assim também aconteceu com a tragédia de Vigário Geral... Quando são as chuvas que causam a tragédia, nosso dedo se volta contra o governo municipal, estadual, federal... a culpa é dos políticos.
Será que tudo se resume nisto? Culpar a polícia, o governador, o prefeito, o presidente, o diretor da escola...?
Diante de uma violência deste calibre o que nos assusta é a nossa incapacidade de lidar com aquilo que não conseguimos controlar, com o imponderável que tanto nos atemoriza, e nos põe frente a frente com a terrível impressão de que dias piores virão...
sexta-feira, 8 de abril de 2011
Clariceando...
A Surpresa
Não há homem ou mulher que por acaso não se tenha olhado ao espelho
e se surpreendido consigo próprio.
Por uma fração de segundo a gente se vê como a um objeto a ser olhado.
A isto se chamaria talvez de narcisismo, mas eu chamaria de:
alegria de ser.
Alegria de encontrar na figura exterior os ecos da figura interna:
ah, então é verdade que eu não me imaginei,
eu existo.
Clarice Lispector
quinta-feira, 7 de abril de 2011
Envelhecer
Uma pessoa envelhece lentamente: primeiro envelhece o seu gosto pela vida e pelas pessoas, sabes, pouco a pouco torna-se tudo tão real, conhece o sginificado das coisas, tudo se repete tão terrível e fastidiosamente. Isso também é velhice. Quando já sabe que um corpo não é mais que um corpo. E um homem, coitado, não é mais que um homem, um ser mortal, faça o que fizer... Depois envelhece o seu corpo; nem tudo ao mesmo tempo, não, primeiro envelhecem os olhos, ou as pernas, o estômago, ou o coração. Uma pessoa envelhece assim, por partes. A seguir, de repente, começa a envelhecer a alma: porque por mais enfraquecido e decrépito que seja o corpo, a alma ainda está repleta de desejos e de recordações, busca e deleita-se, deseja o prazer. E quando acaba esse desejo de prazer, nada mais resta que as recordações, ou a vaidade; e então é que se envelhece de verdade, fatal e definitivamente. Um dia acordas e esfregas os olhos: já não sabes porque acordaste. O que o dia te traz, conheces tu com exactidão: a Primavera ou o Inverno, os cenários habituais, o tempo, a ordem da vida. Não pode acontecer nada de inesperado: não te surpreeende nem o imprevisto, nem o invulgar ou o horrível, porque conheces todas as probabilidades, tens tudo calculado, já não esperas nada, nem o bem, nem o mal... e isso é precisamente a velhice.
Sándor Márai
em As Velas Ardem Até ao Fim
quarta-feira, 6 de abril de 2011
Os nossos dias
terça-feira, 5 de abril de 2011
Entre livros
A Biblioteca
Chegada a noite, volto a casa e entro no meu escritório; e, na porta, dispo a roupa quotidiana, cheia de lama e de lodo, e visto trajes reais e solenes; e, vestido assim decentemente, entro nas antigas cortes dos homens antigos, onde, recebido amavelmente por eles, me alimento da comida que é só minha, e para a qual nasci; onde eu não me envergonho de falar com eles e de perguntar-lhes as razões das suas acções. E eles com a sua bondade respondem-me; e, durante quatro horas, não sinto tédio nenhum, esqueço-me de toda a ansiedade, não temo a pobreza, nem a morte me assusta: transfiro para eles todo o meu ser.
Nicolo Maquiavel
segunda-feira, 4 de abril de 2011
Procura-se
Era uma vez um homem que passava uma parte considerável dos seus dias a mexer no lixo alheio. Explicava, a quem desejasse saber, que procurava uma alma. Perdera a sua e, por isso, precisava encontrar outra com urgência. Acrescentava que o local mais óbvio para procurar era entre o lixo dos outros. Pois se a bondade apenas se destaca quando contraposta à maldade, se a virtude apenas o é em relação ao pecado, se a verdade apenas existe enquanto a mentira existir, em que outro local procurar a pureza senão entre a impureza? Sorria e continuava a revolver o lixo.
Paulo Kellerman
em "Miniaturas"
Fotografia de Fred Veras
sábado, 2 de abril de 2011
Claudio Edinger
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Claudio Edinger, autor de 13 livros fotográficos, recebeu duas vêzes o Prêmio Leica de Excelência em 1983 e 1985 pelos seus livros de fotos Chelsea Hotel e Venice Beach.
Recebeu o Prêmio Ernst Haas em 1990 pelo seu trabalho fotográfico no asilo do Juqueri.
Seu livro sobre o Carnaval recebeu o prêmio Higashikawa do Japão, de melhor fotógrafo estrangeiro em 1999 e a bolsa Vitae em 1993.
Suas fotos para a revista Newsweek receberam o prêmio Pictures of The Year em 1996.
Seu livro de fotos sobre Habana Vieja foi eleito um dos dez melhores do ano pela revista American Photo, em 1997.
Seu trabalho sobre o Rio de Janeiro foi escolhido como um dos melhores do ano pela revista Photo District News.
Seu projeto sobre São Paulo recebeu o Prêmio Porto Seguro em 2007.
Suas fotografias já foram expostas em várias galerias e museus nacionais e internacionais e foram publicadas nas maiores revistas do mundo.
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As fotografias abaixo são da exposição "De Jesus a Milagres"
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