sábado, 4 de março de 2023

Clariceando

 


Uma das coisas boas sobre envelhecer é nos tornarmos pragmáticos. Procuramos apenas palavras. Ou o sono. Não nos preocupamos com o motivo de fixar o olhar demoradamente., a imaginar... Não nos preocupamos mais com o futuro. Apenas desejamos que o presente não se acabe. O coração e a mente se alinham. E, de repente , as coisas não precisam mais fazer tanto sentido.

Clarice Lispector
 
 
 

Sábado, sozinha

 


Porque estar sozinha nunca me pareceu um problema. Parecia bem mais uma solução. Mas aí eu aprendi a me socializar com um, e só um. E isso faz falta a cada dez minutos sem sua presença irritante. Pequenos detalhes para quem acordou disposta, meia hora antes do horário normal, seguiu sem reclamar para a faculdade e o fez até terminar. 

Não almocei porque seria contrário a todos os outros fins de semana e eu não quero radicalizar. Ok, pelo menos dormi o sono mais esperado do século, embora esteja ainda com a sensação de que preciso de mais – e muito mais. Acordei com um choro que, certamente, não era o meu. Ofereci ânimo, quase aceito. E isso geralmente dura muito pouco, ainda não sei fazer direito. Procurei os cachorros do vizinho cego e isso me valeu o dia. e, espera, vou ali pegar o meu martíni e curtir essas horas cheias de nada e de tudo ao mesmo tempo. Assim, sábado, e sozinha.


marcellararumi

 

 

Imagem: arte de Balthasar Klossowski - "Menina Dormindo"




Temos todas as idades em nós

 

Vou contar-lhe uma história. Quando tinha para aí uns 10 anos fui avaliar-me à frente de um espelho. Franzi a sobrancelha, os olhos, a cara, e logo nesse momento pude contar onze ruguinhas. Ainda hoje tenho essas mesmas rugas no mesmo lugar. Já me sentia velha quando era mais nova. E agora que sou mais velha, sinto-me ainda uma menina. Todos nós somos assim.  Somos os velhos em que nos íamos transformar quando ainda éramos novos.

Meryl Streep em uma entrevista



Fotografia Anthony Harvey—Getty Images

 

 

 

sexta-feira, 3 de março de 2023

Receita para viver de novo depois dos momentos felizes

 


É pena, você não vai se livrar dos momentos felizes. Os maus, de decepção ou de tédio, você pode esquecer ou perdoar, mas os felizes jamais: ele te seguem como um cortejo de pregos.

No entanto, há uma antiga receita que pode aliviar esse fardo. Em primeiro lugar, vista sua roupa de núpcias. Sim, o vestido de encontro, o sapato da festa ou o que quer que você tenha socado no fundo do guarda-roupa pra nunca mais ver. Vista.

Então, pegue uma maleta (ajuda se for bem velha) e saia à cata de pequenos tesouros perdidos na gaveta da sua casa. Grampos, clipes, tele-senas, bilhetes, raios-x, números sem nome, chaveiros de lugares onde você nunca esteve, dentes de criança, documentos falidos, ioiôs, agulhas, parafusos, ticos de unha, algodõezinhos, esparadrapos, a carteira de vacinação do gato, o seu título de eleitor, uma foto 3×4 de um parente desconhecido, um mapa do rio de janeiro, um vidro de perfume vazio.

Junte na maleta todos esses pequenos peregrinos dos quais ninguém sente falta e saia à rua, com a roupa e com a maleta, como se estivesse pronto pra viajar levando só essas coisicas. Pode ser que você se sinta ridículo naquela roupa e pode ser que a maleta pese demais ou de menos, mas uma coisa é certa: em algum momento você vai pensar que tem mais o que fazer.

Juliana Bernardo

 

 

 

Imagem via Pinterest




 

Dos meus livros

 

"Pequenas Epifanias", 1986, de Caio Fernando Abreu

 


O coração exposto:



"Meu coração é um poço de mel, no centro de um jardim encantado, alimentando beija-flores que, depois de prová-lo, transformam-se magicamente em cavalos brancos alados que voam para longe, em direção à estrela Veja. Levam junto quem me ama, me levam junto também".


 

"Meu coração é um bar de uma única mesa, debruçado sobre a qual um único bêbado bebe um único copo de bourbon, contemplado por um único garçom. Ao fundo, Tom Waits geme um único verso arranhado. Rouco, louco."



 


"Meu coração é o laboratório de um cientista louco varrido, criando sem parar Frankensteins monstruosos que sempre acabam destruindo tudo".




quarta-feira, 1 de março de 2023

De madrugadas e tristezas

 


 

Às vezes uma chuva molhada é uma coisa boa para escorregar momentos em direção a mim. Quando uma chuva molhada cai sobre o mundo redondo, as coisas da vida e a vida das coisas encontram-se num quintal vasto. Foi sob uma chuva molhada em canduras que encontrei as barbas do meu pai num poema e o sorriso da minha mãe noutro. Foi nas entrelinhas dum poema ensopado que encontrei, várias vezes, a autorização interna pra falar a palavra amor (vou tentar não apagar isto: eu tenho certo receio da palavra amor, espero só que ela não me tenha receios também; seria triste).

Foi com as mãos sujas de restos de amor que estiquei uma madrugada. quando digo a palavra madrugada também sinto um esticão no coração. Se agora abuso muito das madrugadas é porque cada uma delas tem restos de amor que eu sempre vou perdendo. Qualquer dia acumulo esses restos todos e faço uma construção de amor (talvez chame uma mulher pra se encostar ao outro lado dessa construção). A palavra amor pode ser um labirinto com mais de catorze lados avessos. Depois de esticar uma madrugada encosto a madrugada na minha pele e espero. A pele gosta de ser esculpida de novo muitas vezes na vida.

Se puser um «v» na palavra esticar, poderei estivar uma madrugada. Aí elevo-me a estivador de madrugadas e posso pensar num caixote com luar, um caixote com geada, caixotes pesados de estrelas, caixotes de nuvens carregadas de pingos, um caixote hermético com lágrimas, uma caixinha de costura com restos concretos de amor.

(...) há qualquer coisa de sapiência na palavra tristeza. E algumas tristezas não são de espanar – um dia posso descobrir que elas me fazem falta e ter que ir buscá-las na lixeira da Catinton*. Vou encher-me de silêncios e imitar as pedras. Adormecer entre as pedras pode ser que me contagie delas. Depois de conseguir ser pedra vou exercitar o sorriso dessa pedra que eu for. Com esse sorriso vou iniciar uma construção... Uma construção pode bem ser o lado avesso de uma certa tristezura.


Ondjaki, poeta, nasceu em Luanda, em 1977. É membro da União dos Escritores Angolanos e da Associação Protetora do Anonimato dos Gambuzinos. Alguns livros seus foram traduzidos para francês, espanhol, italiano, alemão, inglês, sérvio, sueco, polaco.

 

 *Catinton é um bairro muito pobre, sem as principais infra-estruturas, com ruas cheias de lixo, na  capital de Angola, Luanda

 

 



No vento da tarde

 


  ...

Este texto não existiria se eu não tivesse visto ontem, no claustro da Sé de Lisboa, uma grade românica do século XIII. Há oito séculos que estes pássaros não cantam, que estas cobras não deslizam pela relva úmida, que estas osgas não sobem paredes esboroadas. Ninguém sabe, aliás, que mãos lhes deram forma, que nome atribuir à beleza leve e robusta desta grade. Sabemos apenas, como diria Rui Chafes, que ali o ferro se fez vento - e que o vento chegou até nós, incólume e cantante. Estes pássaros, estas cobras, estão muito mais vivos do que nós, indiferentes a modas, balanços e ao Juízo Final. Não têm tempo, porque são o próprio tempo, traduzido em ferro por mãos feitas de nada e de ossos breves.


Manuel de Freitas

 

 

Imagem via Pixnio.com 




Na tempestade

 


Em silêncio, um vento frio pousou nos beirais sombrios do coração.
E os sonhos, um por um, recolhem as asas entristecidas... 


Ana Mateus

 

 

 

 

Abelhas e beija-flores



 

Seriam as abelhas filhotes de beija-flores?

Claro que não, mas, ambos são de fundamental importância na polinização das flores. A polinização é o transporte do pólen de uma flor para outra. É através desse processo que as flores são fecundadas, dando início ao desenvolvimento de frutas e sementes. A polinização pode ser feita pela água, pelo vento por pássaros - como os beija-flores, as abelhas e as borboletas.



Mona... quem?

 

 Monalisa punk

 


Entre os elementos culturais do "movimento punk" estão: o estilo musical, a moda, o design, as artes plásticas e o cinema. Seguidora de  diversos movimentos musicais e culturais, Monalisa foi adepta do "punk rock" surgido em 1974 nos USA. Foi um movimento de contracultura e rebeldia e teve como características principais músicas rápidas e ruidosas, com canções que abordavam idéias políticas, anarquistas, niilistas e revolucionárias. As bandas de maior evidência foram; Ramones, Sex Pistols, The Clash etc.



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