Rosa Alice Branco
INFINITO PARTICULAR
quinta-feira, 28 de setembro de 2023
As mulheres
Rosa Alice Branco
Etéreas
em Amor é prosa, sexo é poesia
Crédito da Imagem: Maquillage de Pierrot et Colombine - Ma Folie Des Fêtes
sexta-feira, 15 de setembro de 2023
Terra. Chão. Raízes
Havia um perfume adocicado muito intenso que se desprendia da cesta das maçãs e que eu não sei descrever... Nos degraus de pedra ancorava um raio de sol onde se aninhavam quietos os lagartos e nas asas das aves, inundadas de azul, estavam gravadas todas as rotas... Tudo estava certo, o mundo desdobrava tardes infinitas de pés descalços na terra tão seca, que era a alegria suprema desenhar no pó da pele enigmas secretos com o dedo molhado de saliva. E ríamos... O mundo era tão grande, o mundo era enorme...! Encostávamos as costas à cal das paredes para lhes sentir o calor e lambíamos as mãos pegajosas de compota vermelha e de sumo de laranja... No velho tanque, cheio sempre de água gelada, mergulhávamos o rosto e parávamos de respirar o máximo que pudéssemos, a ouvir o som distorcido das gargalhadas que só sabemos dar na infância... Éramos peixes, éramos pássaros. E não tínhamos medo.
Ana Mateus
imagem via Pinterest
quarta-feira, 13 de setembro de 2023
Incandescente
@microcontos
Escultura de Benjamin Probanza
sexta-feira, 8 de setembro de 2023
Prá lá do visível
Não digo que te amei por ter possuído o teu corpo, mas sim por ter roçado a tua alma. Se pudesse estar apenas perto de ti, a ouvir a tua voz e a demorar o meu olhar sobre o teu, ter-te-ia amado na mesma... Fiquei presa no que está para lá do visível; enredada entre as folhas da tua verdadeira essência.
Possidónio Cachapa
Imagem via theleoisallmymind
A primavera chegará
A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la.
Cecília Meireles
Grito
Tento insinuar-me nos teus percursos, mas a brisa apenas me fala dos aromas que deixaste.
É grande o meu desassossego, confrontado com a impossibilidade do canto da ave. A mordaça cingiu-a, cruel, e o silêncio insiste em negar-me os segredos.
É então que se solta o grito, lancinante, mas a perpetuação do eco apenas acentua a distância. Só as cotovias, condoídas, me sopram ao ouvido as tuas lágrimas. E, de coração na mão, teimo em percorrer o caminho que me levará à frescura dos teus passos.
A.C.
Fotografia de © Neil Mota.
quarta-feira, 30 de agosto de 2023
Bondoso dia
Bondoso dia, ungi-me com os santos óleos da aurora. Essências rosadas de nuvens, ouro aéreo de sol, borbulhas de gorjeios que caem dos elevados cântaros das árvores, produtos vindo do oriente, que a gente chama de levante, que é o mesmo que acordar... e agir.
Ó leste, ó agreste, ó África-mãe, princípio de tudo. Todo dia esse sol me cobre com raios de texturas ewe, fulani, kuba. A doçura atávica que invade o peito tanto quanto o uivo do leão.
Ele, que dormia esta noite na savana. Acordou-me em mim, estamos indo. Ruiva juba, raios de sol, potência de vontades.
Espero que assim, também com vós outros.
Bom dia!
José Antonio Abreu de Oliveira
Arte de Marilyn Turtz
Agosto vai tombando mansamente
Agosto vai tombando mansamente numa doçura de poentes cor de sangue... Os dias baloiçam devagar, diluindo nas horas que escorrem, indiferentes à pressa, todas as angústias que o coração carregou o ano inteiro...
Em Agosto não há tempo nem urgências... e é o mês de todas as resoluções. Agosto espreguiça-se em dias claros e em noites mornas e cheias de brilho, em madrugadas tranquilas embaladas no canto das cigarras e dos grilos que parecem nunca dormir... É o mês das marés vivas, do mar irado que sobe no areal, do nevoeiro matinal e das chuvas mornas, da ronca* a acordar a cidade e a fazer-se ouvir por cima da dolência das badaladas do sino da igreja...
Há uma paz única em Agosto, no pulso sem relógio, no despertar lento e preguiçoso, na evasão das leituras adiadas, nos passeios à beira-mar quando a cidade escurece lentamente, nas conversas arrastadas em esplanadas rasgadas de sol e de risos. Em Agosto todos os dias são meus, todos os instantes me pertencem. É o mês da solidão, tão boa, que desenha escadas em caracol até ao poço mais fundo no fundo de mim. É o mês das memórias, dos planos e das decisões tomadas com um sorriso e com o coração pacificado.
É possível parar em Agosto. É possível comprar um gelado de tangerina e menta e saboreá-lo junto ao mar, em passos lentos, talvez ouvindo cá dentro uma música eterna, um texto que me comove ou um poema inesquecível... É possível fotografar o mar, aprisionar na câmara o tombar das ondas, o enrolar e desenrolar do azul, a explosão fria da espuma... Em Agosto escrevem-se poemas e colocam-se pontos finais, como uma casa onde fomos felizes e que finalmente arrumamos... E quando suavemente batemos a porta atrás de nós, sabemos que é possível recomeçar em paz. Sabemos, cá dentro, que por mais difícil que tenha sido, conseguimos colocar o ponto final.
Ana Mateus
* ronca. maquinismo que produz sons fortes para avisar os navios da proximidade de terra
segunda-feira, 28 de agosto de 2023
Domingo estranho
José Antonio Abreu de Oliveira
Crédito da imagem: Vista interna da antiga estação ferroviária com trem e plataforma vazia em São Peterburg, Rússia. Dia de inverno nevado, via Freepik
1. Brabuleta. Variação de borboleta. Voa, voa, voa, brabuleta.
2. Abêia. Variação de abelha.
3. Acúleas. De Acúleo. Morfologia botânica: emergência epidérmica dura e pontiaguda (como as encontradas na roseira), que se pode destacar com facilidade, sem produzir lesão acentuada no vegetal, o que a distingue do espinho.4. Jataís. Pequenas abelhas, sem ferrão e muito cobiçadas pelos apicultores.