sexta-feira, 1 de maio de 2020

Entre livros

 

A leitura a certa altura torna-se mesmo um vício, um vício corporal, orgânico, não intelectual, o livro como uma substância tóxica, criadora de dependência. (...) Não há matéria, há letras; e não há corpo, mas c-o-r-p-o. Este vício da leitura, do ler, esta necessidade de sentir organicamente, por via das palavras, vira o mundo de pernas para o ar. O mundo real, concreto, torna-se uma nota de rodapé das palavras; como se as coisas fossem, afinal, apenas comentários e observações feitas às palavras e não o inverso. Como se, enfim, as coisas estivessem no mundo para facilitar o entendimento das palavras e não o inverso.

Gonçalo M. Tavares
Atlas do corpo e da imaginação, p. 451




Imagem via Pinterest








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Manoel de Barros