Simplicidade - entre a vida e a arte

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Hoje quero falar sobre simplicidade. Perdemo-nos diariamente na busca por coisas grandiosas, mas somos incapazes de prestar atenção nas pequenas coisas, em transformar pequenos acontecimentos em algo repleto de significado, seja através das palavras, dos gestos, do movimento, das cores e das formas, dos sons ou de outros infinitos recursos.

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Esse é um convite para nosso dia: dar ao antes "ordinário" o status de "extraordinário". E isso depende unica e exclusivamente de nosso olhar, afinal:

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"A verdade é que a arte não envelhece porque o ser humano que a contempla é sempre novo, ou terá um olhar outro e estará realizando uma infinidade de leituras porque infinita é a capacidade do homem de perceber, sentir, pensar, imaginar, emocionar-se e construir significações diante das formas artísticas."

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E escolhi um texto de Manoel de Barros, mestre nesta e em outras tantas arte: descobrir nas coisas simples uma notória singularidade.

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“Tudo, creio, já foi pensado e dito por tantos e
tontos…

Ou quase tudo,

ou quase tontos.

De modo que não há novidade debaixo do sol – e isso também já
foi dito.

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‘Os temas do mundo são pouco numerosos e os arranjos são
infinitos’ falou Barthes.

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Então, o que se pode fazer de melhor é dizer de outra forma.
É des-ter o assunto.

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Se for para tirar gosto poético, vai bem perverter a
linguagem. Não bastam as licenças poéticas, é preciso ir às silenciosidades.

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Temos que molecar o idioma para que ele não morra de
clichês.

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Subverter a sintaxe até a castidade:

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Isso quer dizer: Até obter um texto casto. Um texto virgem
que o tempo e o homem não tenham espolegado.

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O nosso paladar de ler anda com tédio. É preciso propor novos
enlaces para as palavras.

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Injetar insanidade nos verbos para que transmitam aos nomes
seus delírios.

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Há de se encontrar a primeira vez de uma frase para ser-se
poeta nela.

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Mas isso tudo é tão antigo como menino mijar na parede. Só
que foi dito de outra maneira”

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Manoel de Barros .

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