segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Feminino Plural - Luz Del Fuego

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Quem foi Luz Del Fuego?
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Nasceu em 21 de fevereiro de 1917, em Cachoeiro de Itapemirim, no Espírito Santo, a décima quinta filha de Etelvina e Antônio Vivacqua, com o nome de Dora Vivacqua. Nos anos 20 mudou-se com a família para Belo Horizonte.
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Dora sempre foi muito rebelde, e já na adolescência contestava todas as ordens e opiniões sobre sua vida. Dona Etelvina, sua mãe, que já tinha todas as seis filhas mais velhas casadas, precisava ainda se preocupar com Dora.
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Sua rebeldia fazia com que se destacasse no cenário da pequena cidade: nunca aderiu ao uso de sutiã e tinha costume de desfilar pela praia de Marataízses de calcinha e bustiê improvisado com lenços... e isso numa época em que ninguém cogitava do uso do biquini! Ela começou a tornar públicas suas idéias em um país onde ainda não se usava maiô de duas peças nas praias e o culto ao corpo se resumia aos concursos de Miss Brasil.
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Em 1932 acontece uma tragédia na família Vivacqua: Antônio, pai de Dora, é assassinado em Cachoeiro do Itapemirim por pessoas que, dias antes, ele havia despejado de um dos seus inúmeros imóveis. Dora, que tinha então 15 anos, e a mãe voltam para Belo Horizonte mas, como em Cachoeiro, a moça sentia-se oprimida... manifestou desejo de ir morar no Rio de Janeiro, sob a tutela do irmão Atílio. E assim se fez.
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Em 1936 Dora, então com 19 anos, vive um romance inaceitável com José Mariano Cunha Neto, pertencente a uma das mais importantes famílias cariocas. Seu irmão Atilio manda-a de volta a Minas, para a casa da outra irmã Angélica.
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Longe de ser uma solução, isso tornou-se mais um problema: Dora tem um caso com o cunhado Carlos, e é flagrada pela própria irmã na cama do casal. A maior parte da família preferiu acreditar nas mentiras de Carlos e tomou Dora como esquizofrênica. Isso lhe custou dois meses de internação no Hospital Psiquiátrico Raul Soares, em Belo Horizonte, e dez quilos a menos.
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Mas, um outro irmão, Achilles, veio em defesa de Dora... preocupado com a saúde da irmã ao sair do hospital, convence-a a passar uma temporada na fazenda de Archilau, outro dos irmãos Vivacqua. Dora tinha liberdade na fazenda, até que apareceu como “Eva”, trajando literalmente três folhas de parreira presas nos seios e no púbis... e duas cobras-cipós como braceletes. Quando repreendida por Archilau, jogou-lhe um vaso de cristal na testa.
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Esta rebeldia custou-lhe a segunda internação, desta vez na Casa de Saúde Dr. Eiras, famosa clínica psiquiátrica do Rio de Janeiro. Achilles intervém mais uma vez e a irmã Mariquinhas resgata Dora, levando-a para morar com ela em Cachoeiro. O que aconteceria por pouco tempo, pois logo Dora foge para o Rio.
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De volta ao Rio, retoma seu romance com Mariano, sem oficializar a relação. Tentou fazer paraquedismo, mas estava apaixonada e cedeu a pressão do namorado e desistiu da aventura.
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Nasce Luz Del Fuego...
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Dora fez um curso de dança e se apresentava em picadeiros de circos, com suas incríveis serpentes, às quais ela chamava de Cornélio e Castorina: duas jibóias, cobras não venenosas. O nome que adotou em 1947, Luz Del Fuego era em alusão a uma marca de um batom argentino recém-lançado no mercado. A imagem do “fogo” representava bem sua nova opção de vida, já que antes ela era “água viva” (Vivacqua)...
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Luz Del Fuego tornou-se famosa... fazia apresentações nos grandes teatros de Copacabana, rivalizando com as grandes vedetes da época, como Mara Rúbia, Virgínia Lane e Elvira Pagã, esta última com um estilo bem parecido com o de Dora, pois também exibia seu corpo, coisa que não era muito comum nos anos 50. Doava rendas de seus espetáculos para instituições beneficentes, fazendo leilões de si mesma. Foi multada e detida para interrogatórios várias vezes, depois alardeava em praça pública que o delegado, juiz ou prefeito, era muito duvidoso para seu gosto, porque "homem que é homem aprecia a beleza do corpo feminino". E era detida outra vez, por desacato à autoridade.
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Resolveu publicar trechos picantes do diário que mantinha: a sedução pelo cunhado e fatos que revelavam prostituição. Em um segundo livro, também autobiográfico, Luz Del Fuego lançava a base de sua filosofia naturista, e com o dinheiro da venda arrendou uma ilha nas proximidades de Niteroi - RJ, criando aí a sede de seu clube naturista. Esta Ilha foi batizada por ela como Ilha do Sol, e foi o primeiro reduto naturista do Brasil, o que lhe rendeu fama internacional.
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Nos anos 50, a Ilha do Sol tornou-se uma das grandes atrações dos turistas que vinham ao Brasil,muitos deles artistas de cinema americano, como Errol Flynn, Lana Turner, Ava Gardner, Tyrone Power, César Romero e outros. Na Ilha do Sol, a nudez era total e obrigatória, e ninguém, nem mesmo autoridades ou personalidades públicas tinham autorização de desembarcar nela sem deixar no pier as peças de roupa que trajavam, porque seu pensamento e lema era o de que “o nudista é uma pessoa que acredita não ser a indumentária uma peça necessária à moralidade do corpo. Não é concebível aceitar-se que o corpo tenha partes indecentes, que precisam ser escondidas”.
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Com o passar do tempo e a chegada da idade, o mito foi desaparecendo. As reservas financeiras foram escasseando, e seus amantes já não eram mais homens ricos e influentes, e sim homens rudes da região. Seus amigos ficavam preocupados com o perigo que envolvia esses relacionamentos, mas Luz dizia que não precisavam se preocupar, e arrematava: “Eu sou uma Luz que não se apaga”.
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E o previsível aconteceu... no dia 19 de julho de 1967, Luz foi brutalmente assassinada, juntamente com seu caseiro Edgar, pelos irmãos Alfredo Teixeira Dias e Mozart “Gaguinho”. O crime só foi desvendado duas semanas depois, e os corpos foram resgatados no dia primeiro de agosto. Extra-oficialmente, circulou durante algum tempo a versão de que a morte da naturalista fora determinada por motivos políticos, embora a explicação mais aceita para o caso seja a de que o pescador, que já era um fugitivo da polícia, a tenha matado por vingança, em virtude dela o ter delatado às autoridades após uma briga que os dois tiveram.
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Abaixo, um clip de 1949...
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Veja aqui a biografia completa de Luz del Fuego.

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4 comentários:

http://saia-justa-georgia.blogspot.com/ disse...

Dalva, nao a conhecia, adorei o post super informativo e muito bem dividido com as imagens para nao ficar cansativo.
Ela foi demais para a época dela. O mundo nao estava preparado para ela e acho que até hoje.

Um beijao

Jr Vilanova disse...

Que texto interessante, Dalva!

O termo "Luz del fuego" eu já tinha ouvido várias vezes, mas confesso, não fazia idéia do que se tratava, melhor, DE QUEM se tratava!

O texto é rico e esclarecedor! É o segundo que leio por aqui que me traça um excelente panorama de personalidades curiosas do mundo... aguardo novos textos!

Um beijão.
Jr.

NATURISMO AMAZONENSE disse...

Parabéns Dalva! Obrigado por ter postado este texto com as fotos de Luz del Fuego. Mandei um e-mail para vc! Jorge Bandeira, de Manaus.

NATURISMO AMAZONENSE disse...

PARA QUEM GOSTOU DO TEXTO SOBRE LUZ DEL FUEGO, SAIBAM QUE O MOVIMENTO INICIADO POR LUZ NO BRASIL CONTINUA. O NATURISMO JÁ É UMA REALIDADE EM NOSSO PAÍS. JORGE BANDEIRA.

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