domingo, 14 de novembro de 2010

Domingo com Saramago



Através de suas obras José Saramago permanece entre nós. Seus livros são preciosos e hoje deixo vocês na companhia desta maravilhosa história:


É uma deliciosa história para crianças. O grande Saramago transforma-se em personagem e nos conta que teve uma idéia para um conto infantil. A história é sobre um menino que faz nascer a maior flor do mundo.


E então mergulhamos numa leitura que é uma divertida brincadeira. Ele narra a história não como se ela fosse uma história de verdade, mas como se fosse apenas um esboço do que ele poderia contar se fosse capaz de escrever uma história para crianças...

A literatura de Saramago é o lugar do impossível... o personagem da história faz com que uma simples flor seja capaz de dar uma sombra enorme, como se fosse um grande carvalho. Depois, quando ele "passava pelas ruas, as pessoas diziam que ele saíra da aldeia para ir fazer uma coisa que era muito maior do que o seu tamanho e do que todos os tamanhos". E como nos velhos livros de literatura infantil, Saramago conclui: "E é essa a moral da história".


O próprio Saramago nos fala assim:

“Aí pelos começos dos anos 70, quando eu ainda não passava de um escritor principiante, um editor de Lisboa teve a insólita idéia de me pedir que escrevesse um conto para crianças. Não estava eu nada certo de poder desobrigar-me dignamente da encomenda, por isso, além da história de uma flor que estava a morrer à míngua de uma gota de água, fui-me curando em saúde pondo o narrador a desculpar-se por não saber escrever histórias para a gente miúda, a quem, por outro lado, diplomaticamente, convidava a reescrever com as suas próprias palavras a história que eu lhes contava. O filho pequeno de uma amiga minha, a quem tive o desplante de oferecer o livrinho, confirmou sem piedade a minha suspeita: “Realmente”, disse à mãe, “ele não sabe escrever histórias para crianças”. Agüentei o golpe e tentei não pensar mais naquela frustrada tentativa de vir a reunir-me com os irmãos Grimm no paraíso dos contos infantis. Passou o tempo, escrevi outros livros que tiveram melhor sorte, e um dia recebo uma chamada telefônica do meu editor Zeferino Coelho a comunicar-me que estava a pensar em reeditar o meu conto para crianças. Disse-lhe que devia haver um engano, porque eu nunca tinha escrito nada para crianças. Quer dizer, havia esquecido totalmente o infausto acontecimento. Mas, há que dizê-lo, foi assim que começou a segunda vida de “A Maior Flor do Mundo”, agora com a bênção das extraordinárias colagens que João Caetano fez para a nova edição e que contribuíram de maneira definitiva para o seu êxito. Milhares de novas histórias (milhares, sim, não exagero) foram escritas nas escolas primárias de Portugal, Espanha e meio mundo, milhares de versões em que milhares de crianças demonstraram a sua capacidade criadora, não só como pequenos narradores, também como incipientes ilustradores. Afinal, o filho da minha amiga não tivera razão, o conto, de transparente simplicidade, havia encontrado os seus leitores. Mas as coisas não ficaram por aqui. Há alguns anos, Juan Pablo Etcheverry e Chelo Loureiro, que vivem na Galiza e trabalham em cinema, procuraram-me com o objetivo de fazer da “Flor” uma animação em plasticina, para a qual Emilio Aragón já tinha composto uma bela música. Pareceu-me interessante a idéia, dei-lhes a autorização que pediam e, passado o tempo necessário, inútil dizer que depois de muitos sacrifícios e dificuldades, o filme foi estreado. Eu próprio apareço nele, de chapéu e bastante favorecido na idade. São quinze minutos da melhor animação, que o público tem aplaudido em salas e festivais de cinema, como foram, no passado recente, os casos de Japão e Alasca. Como foi igualmente o prémio que acaba de lhe ser atribuído no Festival de Cinema Ecológico de Tenerife, felizmente ressurgido de uma paragem forçada de alguns anos. Chelo veio a nossa casa, trouxe-nos o prêmio, uma escultura representando uma planta que parece querer ascender até ao sol e que, muito provavelmente, irá continuar a sua existência na Casa dos Bicos, em Lisboa, para mostrar como neste mundo tudo está ligado a tudo, sonho, criação, obra. É o que nos vale, o trabalho.”


Enfim, fica aqui a sugestão de um excelente presente para a criançada... Que tal despertar nelas o desejo de criar sua própria história???

"Este era o conto que eu queria contar. Tenho muita pena de não saber escrever histórias para crianças. Mas ao menos ficaram sabendo como a história seria, e poderão contá-la doutra maneira, com palavras mais simples do que as minhas, e talvez mais tarde venham a saber escrever histórias para as crianças..."
(José Saramago)

7 comentários:

chica disse...

Que lindo isso.Belíssima postagem.Vou mostrar ao Neno...beijos,chica

Anônimo disse...

Olá Dalva!

Fiquei encantada com a história desse menino tão especial. Não conhecia esse livro de Saramago. Guardei o video em meus favoritos!

Dalva, desejo que sua semana seja muito iluminada e que Deus te abençoe sempre!

Um abraço muito carinhoso

Judite disse...

Saramago sempre fará parte dos grandes, Dalva.
Eu já conhecia essa obra. Chorei muito quando vi o video pela primeira vez.
É de uma beleza ímpar!

Linda e abençoada semana pra vc!
Deus seja contigo.

http://www.youtube.com/watch?v=iXc-zCwvn5k

Anônimo disse...

Bom dia, Dalva!

Saramago é sinônimo de sublime.
Quem não o conhece, não sabe o que perde.

Deus seja contigo.
Um beijo carinhoso e o desejo de uma semana de paz!

Tin@ disse...

Oie Dalva!
Passando por aqui para agradecer a visita e bisbilhotar um pouco!
Amei seu post! E a idéia do presente também.
Beijocas!

Tucha disse...

Como sempre vc descobre coisas incriveis, não conhecia a literatura infantil de Saramago, gostei da dica.

http://saia-justa-georgia.blogspot.com/ disse...

Estava aqui pensando se a Tucha viu esse teu video e vejo aqui o comentrio dela.

Linda história, lindo o video.

Tb nao sabia do lado dele crianca, rs.

Bjao e obrigada por dividir conosco

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