sábado, 9 de março de 2013

Uma doideira boa na espinha


Uma crônica bem ao estilo mineiro, carregadinha de delicadezas. A autoria  é do cirurgião dentista, José Antonio Oliveira que nos encanta com sua sensibilidade e com personagens calejados pela lida da vida no campo mas que estão cheinhos de sentimentos os mais puros... que chegam a beirar a utopia e povoar nossa fantasia! 

Apreciem:
Desconheço a autoria da imagem

Encontro Gertrudes carregando lenha. E digo, afetuoso, que hoje é o Dia Internacional da Mulher, que ela deveria estar fazendo algo mais leve. E ela responde, mais ou menos assim, cito de memória e algum arranjo:

- Ih, rapaz, tenho tempo não. Cabô a lenha lá de casa. Uso pro feijão, nóis gostamos de feijão feito na lenha, é muito bão, né não? E pra fazer sabão no tacho. Adespois, lá em casa, a gente pouco comemora, tanto trabalho! Ficamos parado não! Meu marido, eu e meus fios a gente pega a vida na unha, senão vem a ruína. E de cabras e ruínas a gente tá cheia. E tombém, lá em casa, Agenor e eu não gostamos de descansar à toa, sempre tem tarefazinha. Minha sorte, Agenor me ajuda, vai fazendo o que tiver pela frente, não espera, não manda, ele vai e faz, pode ser até lavar a roupa que ele vai e faz, caso eu tiver ocupada, tem preferência não.

Agenor não me manda não, que eu detesto ser mandada, se fosse assim eu me separava, num guento mandonismo. Mas também não mando nada: é tal e qual pros dois. E tem tanto por fazer que quem for mandar, vai ficar no resguardo. Lá em casa a orde é ir fazendo, não esperar ninguém para fazer.

Se me agrado? Uai, e houvera de ser diferente? Eu... Sabe, eu gosto disso no Agenor, certas delicadezas dele. Quando ele trabaia, por exemplo, limpando as panelas, ou varrendo o chão ou arrumando a mesa, eu fico olhando ele na nuca, ele des costas, é tão bonito um homem daquele, com aquela força, os dedos e as mãos cheias de calo fazer esses serviços de casa, eu acho bonito, me sobe uma doideira boa na espinha, eu queria ser aquela panela na mão dele, queria ser a toalha que ele alisa, a vassoura (risos)... Que me cresce o amor, não é assim?

Ele é um touro, mas ele que me acha a mulher mais forte do mundo, mais forte que ele, e eu vejo nos olhos, que ele me respeita, que ele gosta de se aquietar comigo, desaprendi viver sem ele, se fosse embora eu ia sofrer muito. Tenho tanto amor por ele que quase choro, com pena dele, se ele atrasa pro almoço, detesto imaginar que ele vai passar fome, isso me dá tristeza funda! 

Se sou feliz? Acho que sim, tenho saúde e força pro trabaio, terrive seria ficar doente, entrevada, disso tenho medo. Sou feliz, sim, eu sou livre, não dependo de ninguém, aprendi ter forças, viver é bão.



2 comentários:

* Edméia * disse...


*Dalva, amei este texto do dentista

José Antônio de Oliveira ! Irei

compartilhá-lo no Facebook, no

Twitter e no G+ !!! *Obrigada !!!

P.S. - Quem dera a maioria das

mulheres fosse assim como a

Gertrudes : simples, humilde,

verdadeira, espontânea, corajosa,

livre e FELIZZZZZZZZZZZZ !!! :))

(Tem muita boneca linda por fora

e vazia, to-tal-men-te OCA por

dentro !!! Triste isto.)

Luna Blanca disse...

Lindo texto.

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