segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Terra boa criadeira

Tenho andado longe de cá, muitos afazeres, muitas leituras. Projetos novos em curso. Vez ou outra sinto falta de passar por aqui, postar algum texto que me deliciou...como esse de hoje, que combina com esse tempinho chuvoso que faz aqui pelo Sudeste, em final de primavera. Esta estação, apesar de sua claridade, de suas cores e flores exuberantes, sempre me pareceu combinar demais com  a chuva, já que esta é quem rega a terra e brota as sementes para que se possam florescer. Finalzinho de primavera batendo forte dentro de cada um de nós, maduros, mas sempre em renovação. O texto deste meu grande escritor e querido amigo José Antonio Abreu de Oliveira vem regar esta tardezinha chuvosa. Apreciem.


E o bem-te-vi catando alimentos na rua, sob a chuva. Penso que são os insetos que ontem atacaram o bairro, bamboleantes em torno das luzes. Acompanhando os pulinhos da ave, me deparo com uma outra coisa, nada a ver: a planta humilde brotando do meio de pedras. Olhei fora, me vi por dentro. Sementes germinando no coração, no peito, sei lá onde fica o núcleo de se sentir ativo e vivo. Devo ser alguma espécie de vegetal, desenvolvo-me em sutilezas. Mas o momento é ajardinado e estou em total sintonia com coisas que brotam e se desenovelam. Percebi umas cascas grossas de carvalho em minha pele, mas o dente-de-leão e as margaridas brancas também encontram terreno, talvez em meus olhos, ou minhas mãos, estou um tanto doce como as amoras maduras. E não cessa o brotamento, coisa curiosa, justo quando me sentia granito. Não estranharei se algum beija-flor tecer um ninho na testa. Enamorei-me da chuva de hoje.

Texto de José Antonio Abreu de Oliveira, postado em sua Facepage, aqui

Um comentário:

Sylvio Mário Bazote disse...

Semeando primaveras internas com letras...

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