terça-feira, 20 de junho de 2017

Sofrer de insônia


"Ó sono, ó gentil sono, ama da natureza, que motivo de espanto em mim descobres, para as pálpebras não me vires cerrar, nem mergulhares meus sentidos no olvido?" 

(Shakespeare)


De vez em quando a insônia vibra com a nitidez dos sinos, dos cristais. E então, das duas uma: partem-se ou não se partem as cordas tensas da sua harpa insuportável.
No segundo caso, o homem que não dorme pensa: "o melhor é voltar-me para o lado esquerdo e assim, deslocando todo o peso do sangue sobre a metade gasta do meu corpo, esmagar o coração."

Carlos de Oliveira, Trabalho Poético



Crédito da imagem: Bert Van den Roye / Stock.Xchng

2 comentários:

Victor Barão disse...

Será imodéstia dar o meu exemplo! Mas, inclusive contra todas as expectativas de partida, desde logo sem que eu alguma vez tenha sequer sonhado com isso e nem que o meu percurso de vida prática a isso me leva-se, o facto é que quando um circunstancial dia deixei de conseguir dormir, passei alternativo acto espontâneo a providencialmente escrever para tão só necessitar sobreviver, só conseguindo então adormecer enquanto escrevia ou após escrever o que devia.

E após já mais de duas décadas a escrever, primeiro para tão só necessitar sobreviver/adormecer e entretanto com a escrita já como minha maior, melhor quando não mesmo única forma de expressão e de existência própria, por vezes evito dormir para poder escrever _ apesar de eu não viver da escrita, mas de tão pouco poder (sobre)viver sem escrever.

Resumindo, esta minha presença aqui, ao menos nas quase duas últimas décadas e meia, deriva acima de tudo de eu ter passado a escrever devido a não conseguir dormir e de posteriormente, como no presente momento, adiar o mais possível o sono para poder continuar a escrever.

Em suma a Vida é um curioso mistério cheio de contradições _ a que nós, cada qual à sua devida maneira, temos de dar coerentes respostas, na medida em que e como nos seja possível ou exigido!

Um abraço, com votos de bom sono e com adicional pedido de perdão pelo (longo) discurso :) VB

Dalva Nascimento disse...

Sim. Muitos escritores têm como companheiras a insônia e as madrugadas.

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