sábado, 24 de junho de 2017

Transparência



Cruzamos caminhos. Dividimos calçadas. Desfilamos, uns para os outros, nossas cores, nossas dores. Pensamos ser invisíveis mas na verdade somos transparentes. Que olho não vê, que toque não sente, que coração não advinha o que eu carrego tão exposto, à flor da pele, à beira do olho? Só tu que não me vês, que não me olhas. Coragem! Perceba...veja: essas cores, essas dores tão minhas, não são, acaso, tuas também? É teu espelho essa ânsia, esse grito, que escondo atrás do sorriso velado. Reconhece, então, nas minhas as tuas próprias cores e dores. Apesar do meu disfarce, por favor, não finjas que não me vês.

Dalva Nascimento



Crédito da imagem: http://www.freepik.com/free-pho…/alone-in-a-crowd_344789.htm


3 comentários:

Victor Barão disse...

Este pequeno-grande texto "Transparência", porque as expõe, suscita-me tantas coisas, como reconhecer: _ a nossa, no caso a minha recorrente sensação de invisibilidade ou de irreconhecibilidade, que "na verdade é transparência"; incluído o facto de tender-mos a esconder as nossas dores ou o que de menos bom identificamos em nós; sem esquecer que tendemos a evitar ver o mais dolorido ou o aparentemente menos bom do outro _ como espelho de nós mesmos. Até por isso faço recorrentemente, plural, referência a nós, porque tal como já indicia o texto "Transparência", com extensão a tudo o mais e mas com particular destaque para a sublime frase: _ "É teu espelho essa ânsia, esse grito, que escondo atrás do sorriso velado.", creio haver coisas, genericamente transversais à humanidade, sendo necessária perspicácia e mas acima de tudo coragem para as reconhecer em nós por nós mesmo e/ou por via do outro!

Por temer o seu inverso, espero ter interpretado, visto, minimamente bem esta "Transparência" da Dalva, como aqui magistralmente se me apresenta, deixando como tal a minha gratidão e amizade. VB

Dalva Nascimento disse...

Creio que esta seja uma das maiores dores de nosso tempo: a invisibilidade que nos vem da falta da conectividade real numa sociedade que prioriza o virtual - quase sempre superficial e até mesmo irreal.

Abraços.

Victor Barão disse...

Minha amiga, por diversos motivos, da minha parte e de momento praticamente não tenho vida social prática, como seja que a minha existência social é de momento mais virtual que real, mas ainda assim e/ou até por isso, para com positiva/genuína projecção desta minha existência virtual na realidade prática da vida, que estou realmente na mesma, se assim se pode dizer, de corpo e alma _ mas também por isso devo reconhecer que, pelo melhor e pelo pior, não é o mesmo estar cara a cara com outra/s pessoa/s que estar aqui virtualmente atrás dum ecrã...

Um real abraço de amizade, ainda que por via virtual

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