sábado, 22 de julho de 2017

Este choro que arranha e lava



Tirava os quadros da parede. Voltava a pendurá-los. Olhava. Mas quem lhe diz que visse. 
Repetia a mesma faixa do disco. Escutava. Mas quem lhe diz que ouvisse. 
Queria chegar a uma conclusão, isto podemos afirmar sem dúvida. Mas quem lhe diz que houvesse. 
E quem lhe diz que fizesse diferença haver ou não haver. 
E quem lhe diz que todo o caminho não fosse exatamente não chegar. 
Ninguém lhe diz. De fato, ninguém lhe diz. 

Toda a vida tentara entender a vida, vivê-la como ideia que pudesse pensar. 
Só agora percebia que a vida era outra realidade. 
Uma brisa inesperada na face. 
Uma areia encravada sob a pálpebra. 
Nada que alguma vez tivesse pensado. 
Esta lágrima. Este choro que arranha e lava.


Jorge Roque




Um comentário:

Victor Barão disse...

Se bem entendi, creio vir a propósito dizer:

_ A vida é dual, e de entre os seus paradoxais pólos cabe tudo e nada, por si só o que a vida é e o que deixa de ser, aquém e além do objectivo entendimento da mesma!

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

...