terça-feira, 4 de julho de 2017


Imagem: Google

Ela gastava horas passando uma camisa, tão branca quanto os fios de sua cabeça - como se os anos tivessem deixado o tecido eternamente amarrotado. Após cuidar para que cada cantinho estivesse impecável, pendurava-a perto da janela e a brisa da madrugada trazia a roupa à vida. Dormia sentada de tanto observar, provavelmente saudosa da época em que, dentro da camisa, havia alguém. Quando faltava inspiração, eu pegava um café e a espiava do meu apartamento. Mas por semanas sua janela permaneceu fechada. Dia desses, uma moça muito bonita assumiu o lugar da velha senhora na tarefa de passar o mundo. Horas depois, duas camisas brancas, de homem e de mulher, se enroscavam, dançando juntas ao vento.

Pareciam felizes.



Leonardo Sakamoto

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