sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Devolver-nos




Se Deus nos fez livres, o amor de quem nos encontrar pela vida não pode ser contraditório ao amor que nos originou. O outro que acabou de chegar não tem o direito de se tornar obstáculo para Aquele que nos sustenta em nossa condição primeira. Se quiser nos amar, se quiser fazer parte de nossa vida, terá de ter diante dos olhos o que somos, o que ainda podemos ser, e não o que gostaria que fossemos. O amor só acontece quando deixamos de imaginar. Só a realidade autentica o amor, atesta sua verdade.

Estamos em processo de feitura, e Deus nos devolve a nós mesmos o tempo todo.

É o amor humano de Deus, manifestado em minha vida pela força de pessoas concretas, cheias de voz e de gestos. Essas são as pessoas que nos ajudam a conquistar o que não sabíamos possuir... O olhar de quem nos ama é um olhar que nos devolve, abre portas.

Uma coisa é certa: quanto maior é o bem que nos provocam, maior é o desejo que temos de ficar por perto. O desejo sobrevive assim. O outro nos apresenta um jeito novo de interpretar o que somos, e por essa nova visão nos apaixonamos. O que nos encanta no outro é o que ele nos conseguiu fazer enxergar de nós mesmos. Egoísmo? Não. Apenas o primeiro pilar do conceito de pessoa alcançando uma profundidade ainda maior dentro de nós.

VIR A SER
Eu procuro por mim.
Eu procuro por tudo o que é meu
e que em mim se esconde.
Eu procuro por um saber
que ainda não sei,
mas que de alguma forma já sabe em mim.
Eu sou assim.
Processo constante de vir a ser.
O que sou e ainda serei
são verbos que se conjugam
sob áurea de um mistério fascinante.
Eu me recebo de Deus e
a Ele me devolvo.


Padre Fábio de Melo
em “Quem me roubou de mim”, trechos p. 140. 141 e 142

Crédito da Imagem: fotografia de David Talley



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