Um hábito: tomar água imediatamente ao acordar. Coisa antiga, de quando morei na roça, caminho da escola, a mina fresquinha borbulhando sob o bambuzal. Lavava o rosto, molhava os cabelos, penteados com a mão. E me via, refletido, na poça, um garoto de cabelos negros com a cabeça cheia de sonhos. Um dia, no reflexo, notei no azul, quase me tecendo uma coroa de louros, o traço semi lunar da esfera que nos ronda. Outro dia, na borda úmida, um sapo assustado, com um certo odor de musgos. Um tempo que me interessava amorosamente por sapos e planárias, seres que julgava oriundos de outros planetas. Todos, revestidos de água fresca da mina, do mesmo gosto que, todas as manhãs, entorno goela abaixo, sabor de memória. As tatuagens das quais nunca nos livraremos. Tenho certeza que foram este bichos úmidos que me deram um inexplicável interesse pelos mistérios. Reverencio a todos e agradeço.
José Antonio Abreu de Oliveira
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