...
A esta casa em silêncio que sobra neste espinho-pedra de horizonte,
ao esquadro de madrugada repentina,
ao ausente corpo quase nada, acrescento
diurnamente acrescento pedras-de-afiar
as nascentes, que calmas e vorazes brotam do corpo, da parede, das velas que me alumiam o voo, do livro que adormece na mesa, no corpo, no quase nada que acontece
na forma da cauda de cometa, na nuvem que ajeito com as mãos, com dois braços, com o linho tranquilo do corpo, na veia-rio que acolhe o sopro o ar a margem onde navega de mim o quase nada que acontece, acrescento
a casa.
Desta casa azul em silêncio, imenso azul fraga em silêncio, colho o resíduo húmido da palavra, o coalho, o bolor duma palavra (ínfima ou imensa, azul apenas) antes que a manhã aconteça; aguardo, então aguardo. No coração-em-cinza da terra, na manhã clara, ainda repousa o restolho, a aguadilha azul da palavra adormecida, a pedra solta e solitária, inquieta, um corpo quase nada
onde adormeço e sobrevivo; é a minha pouca casa.
À casa (azul, de azul silêncio), acrescenta-se todos os dias essa pedra inquieta, aparentemente solar; repentina e silenciosamente
solar,
como um frágil grito.
breve leonardo
Crédito da imagem: fotografia de Sérgio Gustavo Coutinho Grossi, todos os direitos reservados
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