quinta-feira, 5 de março de 2020

Meu amor é bicho selvagem

 

Meu amor é bicho selvagem que teimo em domesticar. Crava as unhas e os dentes no meu peito, devora minhas entranhas. Traz à tona o que desconheço em mim. Esfrega a droga do espelho na minha cara e depois o atira longe, ao chão. Sete anos de azar.
Quando tenho medo, ele gargalha. Ele que sou eu - visceral. Ele que sou eu - profunda. 
Água e sal. Sangue, suor e lágrimas. 
Tapo a boca com as mãos enquanto ele grita o teu nome - faca afiada. Que corta a carne. Beija e assopra. Depois lambe a ferida, feito gato. O de Alice. Se se visse. Mas não se vê. Só se sente, pressente. Advinha o assombro, o desmantelo. Desespero.
Desisto de arrumar a casa. A cara. A vida.
Meu amor é bicho selvagem. Corre solto.
Vai, então; segue teu caminho e seja livre. Inteiro, imenso. Daqui te olho e te sou, tua.






Crédito da imagem: O sorriso do gato de Alice, em Pinterest




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