sábado, 4 de abril de 2020

Não te rales, pai


 
Paizinho,

Espero que estejas feliz aí, onde não há tempo e o espaço é o infinito amor.
Eu? Nem sei! Deambulo pela casa, entre a exasperação e os ansiolíticos. Eu sei que sou muito nervosa, Vou tentar, paizinho, vou tentar aclamar-me. Fazes-me tanta falta!
A mãezinha está bem, assim o suponho porque não a posso ver. Estamos em estado de emergência... Tenho tanto medo por ela, queria tanto que estivesse comigo!
Mando sim, diariamente mando-lhe o meu carinho, os meus beijinhos e reafirmo-lhe sempre a saudade dolorosa que guardo no peito.
E tu não estás! Preciso tanto do teu abraço, da tua voz!
Ontem comemorou-se o Dia do Pai!
Achas que me iria esquecer? Não te falei, não te escrevi, mas como sempre a tua energia e o teu amor tocaram-me.
Os meus olhos choraram pétalas de rosas, numa antevisão da primavera do teu riso. Estiveram sempre comigo as tuas gargalhadas. Hoje, porém, o dia está triste e cinzento deprimindo todos os medos  e, na vã tentativa de reagir às cores fúnebres do país, uno-me ao amor e tudo faço para que o arco-íris desponte daí... de onde estás.
Não te rales, paizinho, a mãezinha não tem real consciência do perigo, apenas tem consciência da minha ausência e sofre. No mais, tenho que acreditar no que me dizem, pois é isso que desejo, expurgar as sombras da tristeza como tão bem me ensinaste. Acredito, por isso, que está bem.
Nunca esqueças que o meu amor por ti está unido ao teu, para que façamos a nossa eternidade.

Quebrando a proibição das manifestações de afeto, o maior e mais quentinho abraço.
A tua filha.

Margarida Afonso Henriques
20.03.2020




Imagem via Pinterest




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