Ele pergunta, retoricamente, vendo que ela está de malas feitas:
- Já vai indo?
Ela responde, com cara de quem daria tudo para ficar:
- Já vou indo.
Mas fica olhando pra ele longamente, percorrendo o corpo, se detendo um segundo na altura dos ombros e mergulhando nos olhos com a sede infinita de quem está a um passo da água e não a pode beber.
- Então, feliz ano novo - ele diz, igualmente mergulhado nos olhos dela, mas constrangido, sentindo-se incômodo e invadido, sem saber o que fazer com as mãos.
- Feliz ano novo...
Mas nenhum dos dois se move. Nenhum passo para um abraço, um beijo, ou para a direção oposta. Ficam imóveis. Continuam se olhando, mergulhados. Sorriem ainda sem tirar os olhos um do outro e dizem, ao mesmo tempo:
- o que foi?
E riem uma risada que enche o silêncio e interrompe o mergulho. Só então conseguem se mover. Um na direção oposta do outro. E ele vai caminhando sério, mas leve, por se livrar da invasora. E ela vai caminhando a sorrir, mas triste, por deixar pra trás aquele que.
Glaucia
Imagem da Web

Nenhum comentário:
Postar um comentário