Liberdade é palavra tão delicada que sempre me assusta. No amor, então, é pesada de contradição: pois o difícil não é o que nos peçam atenção e entendimento, mas o território do outro, onde cresce a sua liberdade, se estende diante de nós. Esse é o umbral junto do qual mesmo no ímpeto da paixão paramos assombrados. Ninguém o transpõe impunemente: ele vai conferindo à nossa vida sentido e forma, em amplos espaços, que se vão tornando generosos à custa do terreno conquistado em batalhas nem sempre fáceis: há sangue derramado, há identidade perdida, há personalidade ferida, há desejos contidos, orgulho vacilante. Há sobretudo, esse enorme esforço de entender a solidão das duas partes que tanto se querem fundir. O mundo dos amantes,que tanto se parece com o mundo mágico de uma criança onde tudo é possível, tudo é agora e tudo é sempre, começa a se modificar, a melancolia, o pressentimento da dor, andam por estes caminhos com suas patas de veludo, leves mais fatais.
Lya Luft
Fotografia de Heloisa Hayon
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