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Compreendi, de repente, que a dor da sonata interrompida se deve ao fato de que vivemos sob o feitiço do tempo. Achamos que a vida é uma sonata que começa com o nascimento e deve terminar com a vellhice. Mas isso está errado. Vivemos no tempo, é bem verdade. Mas, é a eternidade que dá sentido à vida. Eternidade não é o tempo sem fim. Tempo sem fim é insuportável. Eternidade é o tempo completo, esse tempo do qual a gente diz:
"Valeu a pena".
Compreendi, então, que a vida não é uma sonata que, para realizar a sua beleza, tem que ser tocada até o fim. Dei-me conta, ao contrário, de que a vida é um álbum de mini-sonatas. Cada momento de beleza vivido e amado, por efêmero que seja, é uma experiência completa que está destinada à eternidade. Um único momento de beleza e amor justifica a VIDA inteira.
Rubem Alves
Excerto de "Um único momento"
Fotografia de Heloisa Hayon

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