quinta-feira, 27 de agosto de 2020

Todo amor já nasce existido

 

Posso dizer que me apaixonei.
Orora. Dona Orora. Fala tudo errado.
Mas  se falar assim inventado, aí que eu gamo mesmo, invoco, pego amor todo prosa.
Já posso me casar, se Orora for mesmo viúva, não sei não perguntei. Usa um lenço na cabeça, eu a vi com um balaio cheio de lenha. Lá na Grota Aflita dos Cabritos. Estou no ponto de amar, faz tempo que não sinto o tremelicor do peito. Andava desamado, malquerido.
Foi num jaspe de sol: Orora luzidia: arrebitei os teréns.
Orora, Orora. Ate onde é que tu me enlevas, me levas, me suspende? Eu vou! Todo amor já nasce existido. A gente que se arremela não ver... Acontece que um peixe veio vindo, nadando no contradestino. senti as escamas de musgos. Estou colhendo ramalhetes pro nosso primeiro encontro. Beijos de Pigmalião.

José Antonio Abreu de Oliveira


Crédito da imagem: Mulheres carregam pesos na cabeça: Red Basanti, da Índia, e seu bloco de feno (Foto: Floriane de Lassée)




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