A cultura contemporânea deixou de preparar-nos para a solidão. Na maior
parte das vezes, essa é uma aprendizagem que temos de fazer em cima dos
próprios acontecimentos ou na sua dolorosa ressaca, e de forma muito
desacompanhada. É como se a solidão fosse uma eventualidade improvável
na experiência humana e não, como é, um ponto de passagem obrigatório e
comum.
Lembro-me de uma frase de Truman Capote que transcrevi há anos para um caderno: «Todos estamos sozinhos, debaixo dos céus, com aquilo que amamos.» Em momentos diferentes da vida, tenho regressado a ela, e sinto que ainda não me revelou a extensão integral da sua verdade.
Esquecemos que todos os dias, mesmo numa vida afetivamente integrada e febrilmente ativa, a solidão nos visita.
Estamos sós quando estamos conosco próprios e em companhia.
Estivemos sós em crianças, na transbordante juventude e nas décadas da vida adulta, e estaremos assim na nossa velhice.
A amizade e o amor são formas de partilhar, diminuir, dar serenidade ou potenciar criativamente a solidão, mas o seu assobio ininterrupto continuará a fazer-se ouvir na ronda magnífica dos amigos ou no abraço redondo dos amantes. Ela perfura tudo. Recordá-lo é humanizar o nosso olhar sobre a realidade.
José Tolentino Mendonça
in 'O Pequeno Caminho das Grandes Perguntas'
Lembro-me de uma frase de Truman Capote que transcrevi há anos para um caderno: «Todos estamos sozinhos, debaixo dos céus, com aquilo que amamos.» Em momentos diferentes da vida, tenho regressado a ela, e sinto que ainda não me revelou a extensão integral da sua verdade.
Esquecemos que todos os dias, mesmo numa vida afetivamente integrada e febrilmente ativa, a solidão nos visita.
Estamos sós quando estamos conosco próprios e em companhia.
Estivemos sós em crianças, na transbordante juventude e nas décadas da vida adulta, e estaremos assim na nossa velhice.
A amizade e o amor são formas de partilhar, diminuir, dar serenidade ou potenciar criativamente a solidão, mas o seu assobio ininterrupto continuará a fazer-se ouvir na ronda magnífica dos amigos ou no abraço redondo dos amantes. Ela perfura tudo. Recordá-lo é humanizar o nosso olhar sobre a realidade.
José Tolentino Mendonça
in 'O Pequeno Caminho das Grandes Perguntas'
Lina Aiduke Photography
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