terça-feira, 25 de janeiro de 2022

E permaneço indo lá

 

Saudades desse amigo, que escrevia belas crônicas contando  "causos" de sua cidade do interior, Varre-e-Sai. Ele partiu, no ano passado, vítima das sequelas dessa doença que nos assola até hoje. Saudade, Zé! Sei que onde estás teus "causos" continuam a encantar...

 


 

Num sei bem causdequê eu parava naquela casa, dava um jeito de puxar conversa com a dona e futicava o jardim, semblante de cores. Muitas. Das roxas, três; das amarelas, cinco; uma azulada, algumas entrematizes, tigradas, como se alguém entornasse o céu se esquecesse de alimpar.


Das cores, acho. Que era o que me paralisava. Não tinha jeito de não ver, que me lembrava de uns quadros antigos, aqueles jardins bagunçados, prenhe de pontilhamentos. Que era minha vida adolescente, vivaz, com medo e súbitas coragens. Minhas luzes de futuros. Cores prenunciosas. O que seria de mim. Houvera que fosse cravina, acácias, roseiral, musgo e jasmim. 


E se passaram quarenta e cinco anos, de auroras e ocasos dourados. O jardim, não sei, ora sei, ora não tenho certeza, mas se vejo daquele conjunto de buqueres coloridos, me acho feliz em saber que permaneço indo lá, e sempre, e sempre. Nunca deixei de ir.


José Antonio Abreu de Oliveira

 

Crédito da imagem: fotografia de Matthias Hauser 



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