Pátria, lugar imaginário onde habitam os estrangeiros. A luz da madrugada, num dia de Outono, pôs diante do olhar a realidade: casas, ruas, os táxis cruzando nas rotundas. Num café, depois, envolve o espírito a consciência do reencontro. O passado e o presente fundem-se no coração e uma alegria infantil invade o corpo do exilado. As cores do país. Vistas da janela do ônibus que corre pelas planícies. O ocre das casas ficou para trás. O ouvido, atento, ávido de palavras (as conversas dos companheiros de viagem). O desejo de falar começa a perturbar a tranquilidade sonolenta do viajante, aquele que depois de longa ausência voltou ao país. O que é um país, além de ser a terra matinal fumegando, além de ser a meta única, o ponto de regresso de todas as fugas? O alarido das ruas da cidade, uma música reconhecida. Não era disso que nos lembrávamos. Voltar aos caminhos antigos traz a emoção inesperada. Ninguém esperava por mim. Sozinho fui devagar, um sorriso inocente brilhava nos meus lábios. Muitas vezes, depois, percorri, entre as colinas, as estradas que levam de cidade a cidade. E por momentos, na divagação dos pensamentos, apareciam os rostos esquecidos, a memória dos mortos, as perguntas. Por que partimos senão para conhecer a ácida alegria do retorno ao país da infância, imaginário? Ninguém esperava por nós, além da mãe que nervosamente ouvia os passos na areia do caminho repetidas vezes, muito tempo antes da nossa chegada. Como a um estranho invade-nos a antiga paisagem da vida. Sentimentos, surpresas. Perplexos, não sabemos que dizer; nem o que sentimos pode ser explicado. Depois adormecemos de cansaço na cama antiga, com um sorriso na boca serena, como se tivéssemos encontrado a paz da morte.
João Camilo
In: 'Nunca mais se apagam as imagens'
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