(…) Pus-me atento, claro. Pouco a pouco, reparei que o homem, enquanto me barbeava silvava umas notas musicais dirigidas ao canário. Notas soltas, segredadas, mas certinhas. E que o canário, de cabeça inclinada, as escutava uma por uma, e só de vez em quando metia um breve trinado de apontamento. Uma cumplicidade, afinal, de dois artistas solitários, o da gaiola e o da tesoura.
Ainda hoje estou convencido de que aquele canário nas horas mais felizes cantava Rossini e que só o barbeiro o sabia entender porque era diplomado e universal. (…)
José Cardoso Pires
in ‘A Cavalo no Diabo’
Credito da imagem: "Um pássaro em gaiola na aldeia HoiAn, Vietnã", fotografia de Vogelbauer
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