quarta-feira, 15 de janeiro de 2025

Não gosto de cortar árvores

 


Tinha duas coisas. A primeira é que algumas arvores estavam bem perto de cair aqui em casa numa ventania forte. A outra coisa é que as duas cerejeiras ainda não deram flores este ano. São duas, e floridas de um rosa quase vermelho, lindas. Tive que chamar o Lima, que corta arvore há 46 anos. Ele tem 66, é de Ribeiro do Junqueira pertinho de Leopoldina e não usa cinto. Cinto de segurança, quero dizer. Já cortamos 3, uma na frente de casa, que ameaçava cair na rede elétrica, um guapuruvu que cresce feito eucalipto e só serve pra fazer tamanco, e uma que não serve pra nada exceto lenha e por aqui é uma praga. Faltam cinco árvores.

Não gosto de cortar árvores. Sempre falo que se tiver ninho não quero que corte. E tem os esquilos que vem de galho em galho pega bananas e abacates que a Cris deixa pra eles. O fato é que precisei cortar, e o dia todo foi aquele barulho de motosserra e de galho caindo pesado no chão. Faltam cinco, todos jacarés. Numa pausa do corte, eu estava conversando com o Lima, o que não usa cinto de segurança e se pendura numa arvore a 20 metros de altura, conversando fiado ao lado da cerejeira, uma das duas que não deram flores este ano; ainda hoje de manhã estava seca, parecendo morta. Quando vejo estava toda florida, floriu no meio das motosserras cortando as outras árvores... acho que a gente quando fica velho se emociona fácil, e então os meus olhos se encheram de lágrimas.

Fred Coutinho



Fotografia de Rachel Prado

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