domingo, 17 de agosto de 2008

Acolher

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Acolher significa estar presente, disponível para a escuta, disponível para o outro, sem ansiedade de prever o que vai acontecer, sem interferências. Você já observou qual a sua atitude quando alguém lhe procura para contar algo? Você narra uma experiência parecida, concorda ou discorda da situação, dá opinião sobre qual a melhor direção ou procura logo encontrar uma solução?
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Acolher significa justamente o contrário; significa apenas ouvir, sem julgamento, sem anteceder o que vai ser dito, sem acrescentar nada, sem expectativa de um desfecho específico. É estar ali, presente, atento e nada mais.
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É muito simples, mas observo que nem sempre é fácil acolher, principalmente aqueles que mais amamos. Não fomos ensinados ou treinados para ouvir, para receber o outro na sua integralidade, e me parece existir uma ansiedade em “entendermos” logo o que está sendo dito.
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O outro não pensa nem sente como nós. O encontro com o modo diferente de ser, agir, de receber, de sentir pode ser percebido como ameaçador. Não saber do que o outro está falando, não ter um posicionamento, não ter refletido sobre aquele tema em particular ainda, deixa a mente insegura. Somos treinados e incentivados ativamente a “fazer” e o acolhimento pede justamente o contrário .Para acolhermos precisamos conhecer o silêncio.
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Esse é outro aspecto interessante. É no silêncio que o movimento receptivo acontece; primeiro consigo mesmo, para depois acontecer com o outro. Quero dizer não existe acolhimento do outro se não acolhermos a nós mesmos. É uma via de mão dupla. Quando nos ouvimos, abrimos um espaço interno para o outro e quando recebemos o outro por inteiro e nos permitimos conhece-lo por dentro, também nos encontramos.
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A simples atitude de se reconhecer o que é, gera um silêncio e um campo de profundo relaxamento, momento em que o Ser encontra espaço e confiança para expressar sua verdadeira natureza.
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Este movimento torna o acolhimento paradoxal. Porque é nessa circunstância, nesse encontro com a essência, quando a verdadeira escuta acontece, que temos os maiores insights (a informação vem de dentro, não é fornecida pelo outro) e as mudanças mais profundas acontecem.
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O acolhimento permite um desabrochar e acredito que hoje seja nosso maior instrumento para cultivar o amor e a paz no planeta. É certo que o acolher é muito mais um não fazer, mas para se chegar lá ficam algumas dicas iniciais:
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Encontre momentos do seu dia para ficar sozinho e em silêncio.

Observe como e quanto você escuta. Faça disso um exercício e perceba o que acontece dentro de você. Independente do que seja, acolha.

Experimente dizer não aos seus impulsos de opinar e espere o momento em que você realmente seja solicitado. Talvez ele nem aconteça.

Perceba sua respiração, sua coluna, seu próprio Ser e testemunhe.

Pratique! Tem muita gente por aí querendo simplesmente ser ouvida. Inclusive você!

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Gislaine Teixeira

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