quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

E hoje - quem será?

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Já escolheu???
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Vamos com calma... não é isso que você está pensando...
Este post não tem como objetivo insultar o leitor, insinuando sua falta de personalidade ou mesmo sua falsidade...
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A verdade é que cada um de nós, que ocupamos posições sociais, temos o nosso comportamento determinado não tanto por nossas características individuais mas, em larga escala, pelas expectativas face à posição que ocupamos.
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Cada um de nós tem um "Papel Social", que caracteriza nosso comportamento que, apesar do que possa ter de "pessoal" e de características individuais, orientam nossas ações de acordo com nossa posição.
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Em cada grupo em que participamos, desempenhamos um papel, de acrodo com o "status" a nós atribuído.
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Como resultado disso, nossa atividade é socialmente influenciada, e segue padrões.
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Ora, pensemos da seguinte forma: se cada função exige um comportamento típico, e são inúmeros os comportamentos que nós realizamos, assim, ao exercermos as diversas funções que nos são incutidas pela sociedade, desempenhamos, então, uma multiplicidade de papéis sociais.
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Segundo alguns sociólogos, devido a essa multiplicidade de papéis, cada indivíduo é um autêntico "ator social". A vida é um palco, onde todos assumimos vestes diferentes, conforme o local, o tempo e as circunstâncias que nos rodeiam.
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A verdade é que não agimos sempre da mesma forma. Aquilo que eu fui ontem, hoje já não sou. O que me entusiasmou no passado pode, muitas vezes, ser hoje por mim apenas tolerado ou mesmo odiado. Nossos papéis são relativos, tendo-se em vista momentos e contextos distintos, bem como capacidades ou experiências por nós vividas.
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Não é verdade que o nosso comportamento em casa é diferente de como nos comportamos no trabalho? Mais diferente ainda é o nosso comportamento quando estamos entre amigos...
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Desde o dia em que nascemos, entramos em contato com muitas pessoas e passamos por muitos grupos, desempenhando diversos papéis sociais. É um fato positivo, pois assim nos sentimos pertencentes a algo, a alguém, ter importância ao desempenhar este ou aquele papel.
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E toda essa história de papel social e "ator social" levou-me a refletir sobre o nosso mundo virtual e os perfis "fakes" da Internet...
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O uso de falsos perfis online é uma prática bastante comum e muito polêmica. Um certo número desses usuários "fakes" faz uso desses perfis com a finalidade de ocasionar prejuízos a terceiros, mas isso não é o objetivo da grande maioria. A utilização de perfis "fakes" na internet seria o equivalente, no mundo virtual, das "máscaras" que utilizamos no nosso mundo real - máscaras sem as quais não sobreviveríamos socialmente. Sim, pois todos os papéis sociais que desempenhamos são necessários não apenas para nossa sobrevivência pessoal como para as próprias instituições sociais.
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Ainda na concepção de alguns sociólogos, antropólogos e psicólogos, desde pequenos somos treinados a desenvolver e utilizar quotidianamente essas "máscaras". Segundo eles, é dessa forma que começamos a desenvolver, paradoxalmente, a nossa dimensão “fake” no mundo real, desde o momento em que nascemos. E assim vamos construindo boa parte de nossa personalidade, num processo que, dentre outros aspectos, deixamos de ser "nós mesmos" e passamos a ser, cada vez mais, "à imagem e semelhança das expectativas dos outros com os quais convivemos". Expectativas estas que não são apenas de nossos pais, mas também de todas as instituções sociais nas quais nos inserimos: a escola, o trabalho, a família.
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Então, é verdade que no nosso mundo real desempenhamos papéis sociais o tempo inteiro pelo uso de "personas" ou "máscaras", ou seja: somos "fakes" num mundo real...
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Controverso este assunto? Por quê, então, apedrejamos tanto os "fakes" virtuais? Pelo fato de não serem socialmente consentidos? Só porque os "fakes" na Internet estariam utilizando uma máscara socialmente não consentida, ou seja, uma máscara escolhida por eles e não imposta, esperada e exigida pela sociedade...? O "fake", ao se "travestir" de determinadas características, seria somente para romper fronteiras e barreiras socialmente existentes na dimensão virtual, a fim de poder frequentar determinadas redes sociais online...?
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Não seria o uso de perfis "fakes" e de qualquer outra "máscara", seja no mundo virtual ou real, amoral por si só...? ... ou tudo isso é algo muito relativo, conforme visões subjetivas dos valores de cada um?
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Cabe aqui uma reflexão nesse sentido: condenar veementemente os "fakes" pode ser positivo no que se refere à ordem moral e dos bons costume, visando a proibição de determinadas práticas e propósitos prejudiciais... mas também pode ser um ato de cerceamento a vivências criativas e lúdicas, a diversas possibilidades do "ser"...
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Em outros termos: se aplicássemos, na dimensão offline, os mesmos princípios que na vida online supostamente proibiriam a existência de perfis “fakes”, isso significaria proibir, na dimensão real, as festas à fantasia e os bailes carnavalescos de máscaras, a venda de toda e qualquer boneca, a possibilidade de se fazer de conta que se é Zorro, Batman ou a Mulher Maravilha. Seria proibir não apenas as crianças de brincarem mas, também, os adultos de se fantasiarem, seja numa festa ou no próprio dia-a-dia.
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Não seria triste se apenas um tipo de máscara nos fosse socialmente permitido: aquela que a sociedade escolhe para nós e que temos que usar a nossa revelia, nos proibindo a possibilidade de experimentar outros papéis e novas possibilidades de "ser"... ?
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"Dentro da gente há um outro que perseguimos durante toda a vida.
Penso que é importante a busca permanente de tudo o que está do outro lado do visível e do que chamamos de realidade."
(Júlio Cortazar)

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9 comentários:

chica disse...

Esse texto é atual, forte e recheado de verdades. Há máscaras em todos os lugares, "atores"e atores...Mas um ou outro dia, a casa caí,ou melhor, a máscara cai e aí, ficamos à mostra...beijos,chica

Letícia Alves disse...

Importante levantar essa questão, eu já falei disso também no meu blog.
Não condeno quem usa uma máscara para libertar o que não quer fazer na sua outra concepção.
Apenas condeno aqueles que podem causar danos materiais ou emocionais, e disso a blogosfera e a internet em geral estão cheias.
Mas como disse a Chica, um dia a máscara, aquela do mal, cai.
Beijos Tempestuosos!

~*Rebeca*~ disse...

Certas máscaras fazem a vida ficar mais leve, mas existem os mascarados sentimentais, aqueles que por hipótese alguma conseguem transmmitir o verdadeiro sentir pela vida e pelos outros.

Dalva, você é linda!

Beijo imenso, menina querida.

Reebca

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Mylla Galvão disse...

O que seria do ser humano sem as máscaras para esconderem os sentimentos dos outros???
Bem atual o seu texto!

Bjs

Puckett disse...

Olá!!
Passando para deixar um abraço e avisar que meu Bloginho está completando 1 aninho!
Gostaria da sua presença, comemore comigo deixando sua marquinha...
Também ofereço meu Selinho, se gostar, pode levá-lo com você!
Beijos ♥
Isabella,
www.talkisabella.blogspot.com

Lilá(s) disse...

Um texto fabuloso este, é bom parar um pouco e refletir.Gostei.
Bjs

Jr Vilanova disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Jr Vilanova disse...

Dalva,

Primeiro eu gostaria de te parabenizar pela escolha do tema, e mais, pela rica reflexão do post! Adorei!

O que eu tenho a dizer sobre ele é que concordo (e observo isso na prática) plenamente com a constatação dos tantos sociólogos, antropólogos e psicólogos! As máscaras foram agregadas a nossa rotina de tal forma que nem sentimos quando as estamos usando.

Intuitivamente, com o passar dos anos, fui percebendo os momentos que as minhas se faziam necessárias e desde então,ligeiramente incomodado de ter que ser vários (mesmo sendo um só), venho tentando unificá-las, embora saiba que esse será um desafio que nem sempre poderá ser vencido, porque o mundo é está preparado para tanta transparência!

Quanto aos fakes, o fato de assumirem uma realidade inexistente até que não é o que me incomoda mais... o que acho mais prejudicial é alguém precisar se esconder para dizer o que pensa, para fazer o que quer, para enfrentar o mundo sem medo de retaliações! Não vejo méritos em tal postura... mas também permaneço indiferente.

Adorei participar da discussão. Te convido agora a opinar na retrospectiva 2009 do CI, ok?

Um beijo,
Jr.

Tucha disse...

O tema é instigante, especialmente nos novos tempos da virtualidade, e ele me remeteu também ao poeta Fernando Pessoa, genialmente multiplo.
"Multipliquei-me, para me sentir,
Para me sentir, precisei sentir tudo,/Transbordei, não fiz senão extravasar-me,/Despi-me, entreguei-rne,/E há em cada canto da minha alma um altar a um deus diferente.

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