terça-feira, 15 de maio de 2012

Esperança


Hoje é dia da Blogagem Coletiva "Amor aos Pedaços" em sua 3ª fase com o tema “ESPERANÇA”, que tive conhecimento através do Blog Luz de Luma.


Não tive oportunidade de participar das duas fases iniciais da blogagem pois estava vivendo o meu luto. Meu marido, com quem fui casada durante 32 anos, partiu em fevereiro, vítima de um infarto. Hoje, quase três meses depois, estou vivendo ainda a fase do desencanto em busca de esperança para recomeçar.

Vivi, logo no início, a fase de reconhecer que as coisas nunca mais seriam as mesmas. Minha vida não seria mais a mesma. Esta é a realidade da perda. O que eu amava, o que me era tão familiar não fazia mais parte da minha vida. E o mundo me chamava urgentemente a continuar, a olhar a realidade das coisas que não mudam, que são e sempre serão as mesmas. No meio deste turbilhão muitas vezes tive vontade de gritar: "As coisas são diferentes, agora!" 
Trabalhar, andar pela rua, falar com as pessoas, ler um livro, ver um filme - pequenos afazeres que deviam ser terapêuticos - foram, na verdade, obstáculos que tive que vencer dia após dia.


E a vida vai passando como um trem. Os dias se sucedem como vagões, cada qual com sua carga. Uns dias mais fáceis, outros mais difíceis. Há dias em que a mágoa se intensifica e fico me achando... sou aquela que a dor escolheu. Como não pensar: “o que eu fiz para merecer tal sofrimento” - ou ainda: “o que o meu amor fez para merecer o sofrimento e a morte?” Racionalmente eu sei que, de fato, o que acontece na vida é muito diferente daquilo que julgamos bom e justo. No plano emocional, tudo é muito diferente...

"A chuva não cai sobre você; a chuva cai, apenas."
(autoria desconhecida)



O choro nos traz algum alívio, mas não traz respostas. Podemos contar a história tantas e tantas vezes, mas a fonte da dor não seca. Não existe uma resposta, não existe uma solução, não existe volta para essa coisa chamada morte. Só nos resta aceitá-la.

Vivi também a fase de preservar o tempo para recordar e render tributo à todas as lembranças. Viver o luto não é querer esquecer, apagar as memórias, mas aprender a lidar com elas para que não causem tanta dor. Honrar o amor que partilhamos, amor com o qual fomos abençoados. Estou aprendendo que não preciso ver com os meus olhos para saber que aquele que amo está a salvo no meu coração. 

"Você não está curado, mas... um dia - uma idéia que o deixa horrorizado agora - esse infortúnio intolerável tornar-se-á a abençoada lembrança de um ser que nunca o deixará de novo."
(Marcel Proust)

Apesar da dor, no instante em que as lembranças chegam, sinto como se toda perda e pesar se dissipassem... Nossa relação foi forte e bonita, e tenho um grande tesouro de boas lembranças que dão vida, e que sempre posso tirar do baú.

Sou grata porque sei que o amor é mais forte que a morte. A vida que partilhamos é algo para ser celebrado, para ser lembrado. 


"Você não entende porque a gente chora diante da beleza? A resposta é simples. Ao contemplar a beleza, a alma faz uma súplica de eternidade. Tudo o que a gente ama a gente deseja que permaneça para sempre. Mas tudo o que a gente ama existe sob a marca do tempo. Tudo é efêmero. Efêmero é o por do sol, efêmera é a canção, efêmero é o abraço, efêmera é a casa construída para o resto da vida. A gente chora diante da beleza porque a beleza é uma metáfora da própria vida."
(Rubem Alves)

Depois do grande impacto da tristeza, depois que a onda de dor me faz tremer os joelhos, chegou-me uma outra constatação cruel: os golpes continuam: é perda... atrás de perda... atrás de perda. É como um efeito dominó: não foi só a pessoa que eu amo que partiu - foram-se embora também nossos sonhos, nossos projetos. Os planos que fizemos nunca se tornarão realidade. As esperanças que tínhamos se foram. Todo o futuro que imaginamos não acontecerá.

Sim, as coisas estão mesmo muito diferentes. Sempre fui uma pessoa reservada mas, ultimamente, tenho me valido da força, da esperança e da paz das pessoas que me cercam. É uma forma de refazer minhas próprias forças, fortalecer minha esperança e encontrar um pouco de paz. Uma espécie de simbiose. Coragem, força, esperança, fé, paz, saúde: são coisas que vem e vão. Sinto-me como se estivesse carregando minhas energias na energia das pessoas mais próximas... até recobrar minhas próprias forças. Amigos e familiares têm sido grandes reservatórios de todas estas necessidades.

Algumas vezes a presença é tudo. Neste momento de lágrimas e dores, tenho necessidade do consolo dos amigos, dos vizinhos, dos colegas de trabalho, dos familiares, de todos... e também de vocês.

"Sem amigos, o mundo é apenas um deserto... Não há homem que, ao confiar alegrias a um amigo, não se alegre ainda mais; não há homem que, ao confiar os seus desgostos, não fique mais aliviado."
(Francis Bacon)


Tenho esperança de que, com o tempo (este tem passado, mas meu sentimento não...) tudo isto que me  parece tão diferente agora se torne, a cada dia, pouco diferente e, daqui há mais algum tempo, o pouco diferente se torne completamente normal...

Acho que quando você faz a opção de viver o luto, de deixar a dor doer o que tiver que doer, de deixar rolar todas as lágrimas que é capaz de produzir, de cair de joelhos, de gritar, de deixar a raiva fluir - até o coração cansar - naturalmente, com o passar do tempo, o coração ainda dói mas pouco a pouco você percebe que está começando a olhar mais para frente do que para trás... e  começa a esperar com... esperança.

São os primeiros sinais da primavera da alma, que precisam seriamente da minha atenção. Preciso cultivar cada brotinho de esperança que nasce, e deixar que ela atravesse as estações do ano, lembrando-me sempre dos ritmos naturais da morte e da vida, da primavera que chega após cada inverno, da promessa de vida nova que pulsa em meu sangue depois de cada estocada de dor no meu coração.



Que maio me traga todos os sorrisos que abril me roubou.
Que venha com bons ventos que me traga sorte e amor,
que não me deixe sofrer por favor. 
Que esse mês tudo dê certo.
(Caio Fernando Abreu)

Eu sei que dentro do meu amor existe um amor ainda maior. Eu creio que, além deste mundo existe um outro mundo. Preciso ser forte e me apegar a esta esperança. Sei que ela não faz minha dor passar mas, de uma certa forma, a torna mais suportável... Um dia estaremos juntos novamente.

"Não conseguindo encontrar-me no início, tenha coragem;
Não me encontrando num lugar, procure em outro;
Estou parado nalgum ponto à sua espera."
(Walt Whitman)

"A esperança é tanto uma dádiva quanto uma escolha. Pedimos por ela e escolhemos como usá-la."
(Bonnie O. Miller)

Que a esperança - seja ela o que e quem for, seja ela que nome tiver - esteja sempre ao meu lado...
... quando estiver perdida, que me ajude a encontrar o caminho;
... quando estiver cansada, que seja minha força;
... quando estiver assustada, que seja o meu conforto.

Você pode dar a esperança o nome que quiser. A ela eu dou o nome de DEUS.


Crédito das fotografias, respectivamente:
"The sun sets beyond and reflects on Cochinos Bay", de Walter D. Wilcox
"Sunshine breaking through storm clouds", de Ralf Schultheiss
"Alaska. Cook Inlet. Sharp silhouette of the Barren Islands at dusk", de Ken Grahan
"Italy, View of Lake Garda at sunset", de Michel Reusse


17 comentários:

Sandra Portugal disse...

Querida, Força e Fé!
Esse momento é duro, mas recomecar, mesmo que tudo muito diferente, com esperança é um caminho!
Juntas na esperança!
bjs Sandra
http://projetandopessoas.blogspot.com//

RUTE disse...

Dalva, minha querida,
é a primeira vez que venho no seu blog. Faço parte da organização da BC Amor aos Pedaços.

Receba meu abraço sincero, acredite que gostaria de minimizar sua dor. Fico muito feliz que a temática tenha permitido você contar ao mundo seu pesar. Concerteza hoje, irá se sentir energizada pelo abraço blogueiro. Todos os que aqui vierem quererão ajudá-la em pensamento.

Quem sabe não foi seu marido que nos pediu para a gente vir, quem sabe se não foi Deus que nos enviou como seus instrumentos no plano físico...

Continue conosco. Entra na roda da esperança. A energia do dia de hoje vai lhe fazer muito bem. Tenho certeza que vamos ajudar você a alimentar a esperança.
Bem vinda à coletiva.
Beijinhos além-mar (POrtugal).
Rute

chica disse...

Emocionante tua participação! Imagino bem o que teu coração sente e vives nessa fase. Adaptar-se , ver-se de repente sozinha, sem o amor ao lado.

Nem gosto de pensar!

Mas és forte e , tens direito a viver o luto dentro de ti e ele, pouco a pouco, com a ajuda e companhia das doces e ternas lembranças, vais transformando a dor em saudade e com ela, a esperança de viver novamente bem, sentir-se viva. Ver que estás aí, apesar de tudo!!

Boa sorte, fica bem e tudo de bom,chica

Blog Dri Viaro disse...

Bom dia!! Como foi o dia das mães por aí?

Tenha uma semana abençoada!

Beijos

Dri Viaro
www.driviaro.com.br
www.ameliasdesalto.com
www.ateliefesteiro.com

Lulu on the sky disse...

É difícil recomeçar após perdas que temos em nossas vidas. Quando tudo parece cinza, eis que surge a esperança que estava escondida em nossos corações e nos move para levantar, lutar e acreditar.
Tenha fé e saiba que só o tempo cura a dor e deixa a saudade.
Também participo desta blogagem coletiva. Big Beijos

Jota Sena disse...

Olá Dalva!

Nós nos conhecemos somente no virtual, através de nossos blogs. Mas através de nossos escritos, nos apresentamos. E quem somos, á nossa alma se faz revelar e os amigos virtuais, nos conhecem um pouco mais.

E você amiga Dalva, sempre nos mostrou ser autentíca e capaz de superar até o que nos é mais dolorido.

Abraço deste amigo virtual.

Jota.

Suelen Muniz disse...

Bonita postagem!
Desejo pra vc muita força e fé,também estou passando por uma grande dor que foi a perda do meu avô em abril.
Sei que não estou tão bem como queria estar,mas é isso,aprender a conviver com a saudade que fica e as boas lembranças,é complicado,mas sei que Deus olha por nós!
Abraço,=)

Michelle Siqueira disse...

Vera... O que dizer?

Sinta-se abraçada! Abraçada por estas pessoas que se compadecem da sua perda. Não imagine que qualquer leitor aqui ficará indiferente a sua exposição tão pessoal. Tenha certeza de que está no caminho certo, porque escrever é uma terapia... E escreve tão bem, com tanta clareza de pensamento!

Olha, existem muitos seres humanos aqui (de fora do seu luto) presentes para recorrerem ao se chamado sempre que forem chamados, só é preciso que os chame. Porque o luto é individual e as pessoas hão de respeitar o seu espaço, seu tempo.

Um grande abraço! Reencontre uma rotina sua, ame-se, viva mais, abuse dos amigos, vai valer à pena!

Michelle

Luma Rosa disse...

Sei que sempre foi reservada, mas está na hora de abrir-se e deixar a tristeza sair para amigos e parentes cumprirem o seu papel. Imagino que não seja fácil, pois 32 anos não são 32 dias... terá que se acostumar a não ter com quem dividir seu ar e encontrar alento, uma distração para o seu coração. Sei que é cedo, Dalva! Muito cedo... tudo está tão recente, mas não se enclausure, procure contato com pessoas, até mesmo através da religião. Meu coração doeu e chorei com você lendo o texto, mas isso não é nada, o que posso fazer para amenizar a sua dor, senão fazer como a Rute mesmo indicou? Que eu possa te enviar boas energias com o pedido que suas dores se transformem em aceitação para que você não olhe os vagões passando sempre cheios. Que a vida seja mais leve e que você encontre sua paz! Beijus,

Roselia Bezerra disse...

Olá, Dalva querida
"O que me importa o tempo e o espaço,
Se trilhei caminhos orvalhados
Em busca do calor do teu abraço?"
(Auxiliadora)

Eu também a nomeio Deus... Perfeita Esperança!!!


Concedei-lhe, ó Deus, prodigamente, o ORVALHO DO CÉU...
Até o próximo mês, se Deus quiser!!!
Abraços esperançosos de paz

"Jamais desista de ser feliz, pois a vida é um espetáculo
imperdível, ainda que se apresentem dezenas
de fatores a demonstrarem o contrário."
Fernando Pessoa.

Socorro Melo disse...

Olá, Dalva!

Apesar da morte ser a nossa única certeza, nunca estamos preparados para ela, pois, ela nos afasta de quem amamos, e essa é a nossa maior dor. Mas, quando cremos em Deus, e nas suas promessas, sabemos que a morte física não é o fim, é apenas a cisão do tempo para a eternidade. O amor não morre, e a vida continua. A esperança nos ajuda a viver o nosso tempo, com todas as suas imperfeições, e abre-nos os olhos da alma à certeza de que tudo, um dia, será transformado, e então, seremos felizes. Acredite!

Que Deus a abençoe grandemente
Socorro Melo

Anônimo disse...

Dalva!

Primeiro, eu penso, que um dos lados da morte que é mais cruel é o reinicio da contagem do vosso tempo. De agora em diante, é isto ai: 1 semana depois, 1 mês depois, 1 ano depois ... assim será sua vida, até que.. até quando... não sei. A esperança é que em algum momento, ainda que continues a contar, tomará outro caminho sem deixar de olhar este outro em paralelo e contínuo como você mesmo escreveu: "Todo o futuro que imaginamos não acontecerá." Porém, você o olhará sempre.

beijos de esperanças, abraços de confortos.

Maria Luiza disse...

Dalva, bem vida ao time. Também fiquei viúva há sete anos, parece-me que esse golpe aconteceu esses dias. Tantas coisas lindas foram ditas a você que resumo tudo assim: deus é tudo na nossa vida. Já estive no seu outro blog, lindo que fala Dele e já, por lá,fiquei. Fico nesse também pois você escreve divinamente bem e sei que muito aprenderei. Beijão!

Teté disse...

Aqueles que amamos nunca morrem, dentro do nosso coração. Mas é dura a prova de os ver partir, o desgosto não desaparece, só atenua com o tempo... E com a certeza que ninguém nos vai tirar as lembranças dos momentos vividos, se bem que tenham ficado sempre projetos e sonhos por cumprir!

Nestas alturas a esperança (e a fé) são essenciais para recuperar o equilíbrio perdido! E os familiares e amigos também, para nos ajudarem a acertar as agulhas com o presente e o futuro. Espero que seja o teu caso, Dalva!

Beijinhos!

Lilá(s) disse...

Força querida amiga, é apenas o que se pode dizer a alguém que teve uma perda tão grande!
Um forte abraço

http://saia-justa-georgia.blogspot.com/ disse...

Dalva, quando em seu texto você escreveu assim:

"Sinto-me como se estivesse carregando minhas energias na energia das pessoas mais próximas... até recobrar minhas próprias forças. Amigos e familiares têm sido grandes reservatórios de todas estas necessidades."

Lembra-te do versículo que está em Isaías 41:6

"... um ao outro ajudou, e ao seu companheiro disse: Esforça-te.

Lembrando desse "esforca-te", me veio esta estorinha que te conto agora em minha mente:


Um viajante perdeu a direção e acabou jogando seu carro em um valão em um local distante.

Um fazendeiro das proximidades, tomando conhecimento do fato, prontificou-se a ajudar o desconhecido e, para isso, trouxe um de seus cavalos, o mais forte, chamado "Amigo."

Com uma corda amarrada ao cavalo e a outra ponta no carro, o fazendeiro gritou:

"Puxe, Azulão, puxe." Amigo permaneceu imóvel.

Gritou novamente: "Puxe, Veloz, puxe." Nada!

Tornou a gritar o homem: "Puxe, Raio, puxe." Mais uma vez Amigo não se moveu.

O fazendeiro então, com um tom de indiferença, falou: "Puxe, Amigo, puxe!" E o cavalo retirou, facilmente, o carro do valão.

O viajante, muito agradecido e curioso perguntou ao fazendeiro o motivo pelo qual chamou o seu cavalo três vezes por um nome trocado.

Ele respondeu: o "Amigo" é cego e se ele soubesse que era o único cavalo a puxar talvez nem tentasse.

Você nao está só, nao é a única a puxar este momento difícil...

Um grande abraco

Lu Souza Brito disse...

Olá Dalva,

Que a Esperança esteja presente em seu coração. Dificil nao sofrer, nao chorar, nao se questionar, diante de algo assim.
Eu sinto muito mesmp. E que a força e as lembranças do amor possam lhe dar força para continuar.
Um abraço

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