Subo a escada devagar para sentir nos cascos a quentura da pedra. Uma borboleta pousou no corrimão bem ao meu alcance. Prendi-a pelas asas, mas tremeu tanto que soltei-a. Saiu voando buleversada * como se tivesse ficado cem anos presa.
Nos meus dedos, o pó prateado. Tão breve tudo.
Prendi assim a alegria, ainda há pouco foi minha, mas se debateu tanto que abri os dedos antes que a ferisse; não se pode forçar.
Um pouco mais que se aperte e não fica só o pó, mas a alma.
Lygia Fagundes Telles
* Buleversada (do verbo buleversar, neologismo criado, e já utilizado por Drummond e Bandeira, a partir do francês bouleverser, que significa bagunçar, perturbar, abalar)
6 comentários:
Quanta beleza e ternura!
Próprias, na poesia de Lygia...
Um abraço, Dalva
da Lúcia
Um grande abraço
Que delicadeza essa postagem, Dalva.
Sensacional!
Um respeitoso abraço com cores de borboleta para você!
Apesar da transitórias a beleza e a alegria sempre ficam um pouco mais na memória e na poesia.
Gosto de vim aqui e admirar a beleza...
Feliz ano novo querida!
Milhões de beijos
Gosto de vim aqui e admirar a beleza...
Feliz ano novo querida!
Milhões de beijos
Postar um comentário