sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Agridoce



Com gosto de nunca mais na boca, correu prá geladeira e mordeu uma manga bem doce. Mordeu com vontade, deixando de propósito que o néctar doce escorresse pelos cantos da boca, caísse pelo queixo e encharcasse a roupa. Só para ter a impressão de que tanta doçura seria capaz de amenizar o fel que sentia. O doce da fruta se agarrava nos seus lábios, e ia boca adentro, irrigando e perfumando seu hálito. Ela queria era que ele chegasse no seu coração salgado, que boiava em um lago de grandes e grossas lágrimas, agitado pelo vento frio que sopra da solidão, este sentimento tão azedo que, misturado ao doce da fruta, congela o seu dia de hoje, agridoce.


Dalva Nascimento




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Com base no trabalho disponível em http://infinitoparticulardalva.blogspot.com.br/.

4 comentários:

Ray Pereira disse...

Que texto lindo.

Beijos, @_RayPereira
http://porredelivros.blogspot.com.br/

Ana Tapadas disse...

Querida amiga,
eu que continuo de blogues, apesar da febre Fb que por aí grassa...adorei este texto, tão poético!

Beijinho grande.

Anônimo disse...

Sempre surpreendendo!
Continuo apreciando muito seus textos
Abraços
Silvia

* Edméia * disse...


*Dalva, que TRISTEZA rica e

sensualmente BEM NARRADA !!! O.O

*Parabéns pra Você !!! :)

*Bravo ! \O/

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