segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Se essa rua fosse minha



Ele, como ninguém, sabia recriar o mundo dela. Na simplicidade dos gestos e na escassez das palavras ele era tudo, ele dizia tudo. "Vem cá, que hoje eu quero paparicar você um pouquinho. Fica triste, não. Vem comigo, vamos dar uma volta que você vai se sentir melhor. " 
E lá ia ela, amparada nas mãos dele, como se fossem sua tábua de salvação. 
No frio o abraço era forte para esquentar o seu corpo gelado. No calor era sundae, água de coco e suco geladinho. Nas horas alegres falavam muita bobagem, riam muito. Nas horas tristes, quando a escuridão caía, bastava que caminhasse a seu lado para que todas as esquinas tortas se ajeitassem... e ele falava assim: "Olha, você percebeu como esta rua está linda, toda ladrilhada com pedrinhas de brilhante? Tá vendo? Fui eu que coloquei pra você, só pra você..."
Nada de mais, palavras e frases comuns, bobas até. Mas que poder de cura elas tinham!
Hoje, sozinha, ao caminhar pelas ruas, não consegue mais ver as tais pedrinhas. Anda devagar, de cabeça baixa, com muito cuidado para não tropecar nas pedras do caminho. Não porque tenha medo de joelhos ralados, mas por saber que seu coração não aguenta mais nenhum remendo. 

Dalva Nascimento

Crédito da Imagem: fotografia de Martha Veronica



Licença Creative Commons
Este trabalho foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivados 3.0 Não Adaptada.
Com base no trabalho disponível em http://infinitoparticulardalva.blogspot.com.br/.

3 comentários:

Sylvio Mário Bazote disse...

Lindo texto!

Ao invés de fazer sucessivos remendos no coração, seria bom se tivéssemos a capacidade de formatá-lo, como um computador, e reiniciá-lo novo, ágil e sem conexões falhas do passado.

* Edméia * disse...


*Texto lindo !!!

*Emocionei-me Dalva.

*Bom fds, Querida !

*Deus te abençõe.

*Um abraço.

P.S. - Algumas vezes senti-me assim

: com medo de cair porque o coração

não iria aguentar mais sofrimento

!!! Entendo esta situação !!! :((

Luma Rosa disse...

Oi, Dalva!!

A sua caminhada continua. Ainda bem que tem muitas coisas boas para se lembrar!
Como escreveu Cora Coralina: Não morre aquele que deixou na terra a melodia de seu cântico.

O 7º BookCrossing Blogueiro está chegando, preparada?

:)

Boa semana!!

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