quinta-feira, 8 de maio de 2014



'Lá mesmo esqueci que o destino sempre me quis só'. 

Eu cantei esse verso de Adriana Calcanhoto tantas vezes sem saber, mas de um modo que intuía que a vida me preparava uma virada.
Hoje, experimento a solidão. Aquele monstro que me aterrorizava. 
De um modo novo como quem anda de ônibus tendo sempre andado de carro com motorista. 
E sobretudo nos fins de semana tenho vivenciado um olhar absolutamente ímpar diante da cidade que habito. Costumo dirigir, sem eira nem beira, por aí, olhando as gentes. Por enquanto, meus olhos se debruçam sobre os solitários que antes me pareciam apenas derrotados na vida. 
Gosto de chegar sozinha nos bares ou nos restaurantes e identificar os meus iguais. Eu nunca veria os solitários, homens sobretudos mais velhos, quase nunca mulheres, com esse olhar amistoso, solidário, companheiro com que os vejo agora, se não tivesse no mesmo lugar. 
Há uma poesia terna nas solidões compartilhadas nas tardes de domingo. Há um olhar trocado como quem troca a melhor companhia da vida. Uma solidariedade sem resposta pronta.
Mas advirto: é preciso estar bem disposto, bien dans sa peau, como dizem os franceses, sem amargura, sem desespero, apenas com uma tristeza aplacada pela serenidade da certeza de que só ficamos sós se realmente for nosso destino. Eu agradeço a vida ter me proporcionado ver o que eu nunca tinha visto. E como não sei fotografar, só queria mostrar meu olhar.

Sandra Helena Souza, em Elegia da Solidão - Parte I

Crédito da imagem: achei essa foto sensacional por sua criatividade, mas não sei de quem é a autoria. Encontrei no Google+ com a seguinte descrição: domingo lluvioso, melancólico y lleno de recuerdos.
la foto pertenece a la promoción del libro El hombre invisible (The Invisible Man en el original en inglés) que es una famosa novela de ciencia ficción escrita por H.G. Wells.


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