Temos nos olhado muito. Demoradamente. Olho no olho, assim, bem de perto. Com algum desconforto, sem dúvida, mas também com coragem. Somos adultas, as duas. Mas ela ainda brinca comigo. Se esconde atrás dos meus sentimentos mais confusos, corre que nem doida nas minhas veias. Escapole por entre os dedos. Tudo nela é pressa, urgência. Eu a conheço por inteiro, em toda sua cortante profundidade e pequenas doses de doçura. Nós duas somos sobreviventes e nos conhecemos intimamente. Nos pertencemos e não temos segredos uma para a outra. Sei do que ela é feita e há nisso algo de bonito. Tem vezes que me distraio e meio que me esqueço dela. Resiliente, ela me conhece por dentro e vem logo me resgatar. Nos entregamos uma a outra sem reservas. Ela sempre vem - às vezes com calma, cheia de delicadezas. Outras vezes selvagem escoiceando meu peito. Eu a carrego comigo, sentindo seu peso sobre os ombros. Ela sou eu. A solidão. Minha solidão sou eu.
Dalva Nascimento
Crédito da Imagem: Fotografia de Alex Stoddard
3 comentários:
Conheço bem a resiliência, a solidão _ não falo por falar, falo por vivência prática e própria, umas vezes mais intensa e profunda e outras um pouco menos, mas efectiva e concreta. Em qualquer caso jamais saberia escrever, expressar-me tão bem, duma forma tão inspirada ao respeito.
Um abraço caloroso, que mesmo meramente virtual espero chegue como sinónimo de amizade.
E obrigado por partilhar um pouco da sua resiliência, pelo melhor, pelo mais inspirado que da mesma deriva... vb
Muito grata, caro amigo Victor Barão. Suas palavras me imensam!
Abraços,
Dalva
O que me honra e alegra! :-)
Abraço
VB
Postar um comentário