quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

A escuridão dos dias



Dia 170.
Por mais que os meus sentidos procurem um sentido, o dia de hoje é um grande et cetera. Não quero saber do que o médico diz. Respiro, respiro, respiro, e não me sinto confortável...

Poderia ser complicado, mas não é. Poderia ser divertido, mas não é. Gostaria de entender o que não está bem, mas não sei o quê. Sinto apenas que alguma coisa não está bem. Talvez seja do cansaço, desta mania de fazer, pelo menos, duas coisas ao mesmo tempo.

Não me apeteceu continuar a ler as Odes de Horácio, e recusei o convite para beber com Jean-Arthur Rimbaud uma cerveja no inferno. Sinto até a minha sombra fatigada e, ao contrário do que é costume, não é com olhos ardentes nem com um novo fogo que dispo a manhã ou pronuncio o meu nome.

Veio à lembrança uma fotografia que me tiraram em miúdo com várias pombas poisadas sobre os meus braços. Eu adorava essa fotografia, que se perdeu, que voou no tempo como as pombas. E a verdade é que me sinto apenas um menino de dez anos com os braços vazios, a quem ninguém quer tirar uma fotografia.
Hoje preciso mesmo de ti.

Joaquim Pessoa, in ANO COMUM

Crédito da imagem: Arte de Leanne-lim-Walkerl

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

...