segunda-feira, 16 de março de 2020

Poeta, em que medita?




Poeta, em que medita?
Por que vives triste assim?
É que eu a acho bonita
E você não gosta de mim.
Poeta, tua alma é nobre
És triste, o que o desgosta?
Amo-a. Mas sou tão pobre
E dos pobres ninguém gosta.

Poeta, fita o espaço
E deixa de meditar.
É que... eu quero um abraço
E você persiste em negar.
Poeta, está triste eu vejo
Por que cisma tanto assim?
Queria apenas um beijo
Não deu, não gosta de mim.
Poeta!
Não queixas suas aflições
Aos que vivem em ricas vivendas
Não lhe darão atenções
Sofrimentos, para eles, são lendas.

Carolina Maria de Jesus


Carolina Maria de Jesus (Sacramento, 14 de março de 1914/ São Paulo, 13 de fevereiro de 1977) escritora brasileira, conhecida por seu livro "Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada" publicado em 1960.
Carolina de Jesus foi uma das primeiras escritoras negras do Brasil e é considerada uma das mais importantes escritoras do país. A autora viveu boa parte de sua vida na favela do Canindé, na zona norte de São Paulo, sustentando a si mesma e seus três filhos como catadora de papéis. Em 1958, tem seu diário publicado sob o nome Quarto de Despejo, com auxílio do jornalista Audálio Dantas. O livro fez um enorme sucesso e chegou a ser traduzido para catorze línguas.
Carolina de Jesus era também compositora e poeta. Sua obra permanece objeto de diversos estudos, tanto no Brasil quanto no exterior.


(...) quando percebi que eu sou poetisa fiquei triste porque o excesso de
imaginação era demasiado.

Carolina Maria de Jesus


Lá no interior eu era mais feliz, tinha paz
mental. Gozava a vida e não tinha nenhuma enfermidade. E aqui em
São Paulo, eu sou poetisa!

Carolina Maria de Jesus


  “A vida é igual um livro. Só depois de ter lido é que sabemos o que encerra. E nós quando estamos no fim da vida é que sabemos como a nossa vida decorreu. A minha, até aqui, tem sido preta. Preta é a minha pele. Preto é o lugar onde eu moro.”

Carolina Maria de Jesus 
em “Quarto de despejo”. São Paulo: Francisco Alves, 1960, p. 160.



“A tontura da fome é pior do que a do álcool. A tontura do álcool nos impele a cantar. Mas a da fome nos faz tremer. Percebi que é horrível ter só ar dentro do estômago.”
– 
Carolina Maria de Jesus
em “Quarto de despejo”, 1960.





3 comentários:

Murillo diMattos disse...

Está aí, uma poetisa e tanto e tudo aquilo que a indústria da cultura alimenta nos faz passar fome. Excelente!

Unknown disse...

Em que obra se encontra o poema "Poeta, em que medita?"

Dalva Nascimento disse...

A poetisa Carolina Maria de Jesus deixou seus escritos em diversos cadernos simples, manuscritos com seus poemas e romances. Sua obra publicada creio eu que em 1960 foi best seller Quarto de Despejo - Diário de uma Favelada. Não sei dizer ao certo em que obra se encontra o referido poema. Acho de grande interesse a leitura do Livro "Vida por escrito: Guia do acervo de Carolina Maria de Jesus", aqui: https://books.google.com.br/books?id=6XrCCQAAQBAJ&pg=PA3&dq=vida+por+escrito&hl=pt-BR&sa=X&ei=L22MVd6xEYKhgwSN74KABg&ved=0CCUQ6AEwAA#v=onepage&q=vida%20por%20escrito&f=false

Grande abraço

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

...