segunda-feira, 6 de abril de 2020

Saudade também faz ninho





 

Por três dias, caminhando para os lados da Fazenda Confiança, ouvi uma criança gritar: 
- Volta, sabiá, volta!

Uma menina, balançando em um rústico pneu, pendurado por cordas em espraiada mangueira. Na terceira vez não resisti e gritei da estrada:

- Por que você chama a sabiá?
- Hein? A menina se estacou,
- Por que você fica gritando pela volta da sabiá?

Ela desceu do balanço e se aproximou da porteira: 
- A sabiá, ela fez um ninho na mangueira, mas o vento derrubou, e ela se foi.

- Com certeza está construindo ninho num lugar mais seguro, que o vento não destrua - eu disse.

E ela: 
- Ah, eu sei, mas saudade também faz ninho, né? E o meu nenhum vento derrubou.

Correu para o balanço, continuou a chamar a sabiá, e eu segui meu rumo. Tá certo, volta sabiá!


Falar nisso, tem um ninho de outra aqui no quintal, numa mangueira também. É uma gorda senhora, que come todos os mamões que nascem perto do muro. Uma esfaimada. É quem primeiro tinge o dia de ferrugem, laranja ou terras acobreadas. Saltita, veloz, bicando insetos sob o pé de acerola. Com certeza, é a mesma, há quatro anos que a conheço. Uma vitoriosa.

José Antonio Abreu de Oliveira




Imagem via Pinterest







Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

...