segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

Menos é mais



Os orientais têm razão, cada vez me convenço mais disto, sobretudo nestas alturas, em que à semelhança de uma alergia ou febre dos fenos tardia, sou violentamente possuída pela doença das limpezas e arrumações. E desato a abrir gavetas, armários, roupeiros, caixas abandonadas cobertas de pó, sacas com coisas religiosamente guardadas porque podem vir a ser úteis para alguma coisa... Mas depois nunca o são. Depois estão tão bem guardadas que nem sequer sei que as tenho. E percebo que encho a casa com coisas que tenho pena de perder, recordações, roupa que talvez volte a servir ou a usar-se, calçado que quem sabe, um dia deixará de me magoar... Os orientais estão certos. Preciso cada vez de menos coisas para ser feliz, cada vez compro menos e valorizo mais o que não está à venda...

E ando irritada com tudo isto, afogada em tralha, em armários caóticos, em espaços sobre-lotados que me roubam o ar para respirar... Está decidido... Vou desfazer-me de tudo o que é inútil, de tudo o que não preciso, de tudo o que está velho, gasto, partido, fora de uso, de tudo o que não gosto, me aperta e me magoa.

Depois, vou sentar-me descalça a saborear uma música, um poema, um café ou um licor doce, com a janela escancarada sobre o jardim que me trará o cheiro da relva e das flores, o canto dos pássaros, a voz do vento, ou o riso dos meus filhos...

E a seguir, talvez faça o mesmo com o coração... Também ele anda sufocado e a precisar de limpezas gerais.  


Ana Mateus

 

 

Imagem via Google



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