O certo é que alguns percebem; outros não. Os gatos, por exemplo. Causa dos bigodes, que avisam antes do futuro acontecer. Assim, se evém temporal, se a terra entra em transe, o menor tremelique das horas, o gato sabe. Similar de asa de anjo, rêmiges se dizem. Não se espante se o gato destrambelhar a correr, sem enredo aparente. Os vindouros que ele conhece bem.
Tem umas gentes que percebem, uns bigodes de gato ocultos. Não são todos, mas uns raros. Eles que revelam. De onde carece se dar relevância, sensitivos que são. Brota mais rente no coração dos artistas, mas antes, o artista arrepanha do povo. O maná primevo, a emanação, tem origem de onde a vida é crespa. E encapelada. Soluções para se aguentar o fardo, as invencionices. Quem descobre o trote é o próprio burro. Mas para perceber as importâncias do vazio, o que o nada causa, o oco do problema...tem que ter vibrissa.
Daí que vou recolhendo os abantesmas, as cismas, os expectos, as trelissas. O que de humano se urge de bigode de gato, nos claro-escuros. Eu vejo mensagens em sombras que não se formam. O tateamento. O amoroso. O pular miúdo. O voo alto. Eles que me ensinam, me dotam. Faço a varredura.
De tal forma me remedam que me vejo no meio deles. De tal jeito me disturbo. Que, se me olhasse ao espelho talvez não me surpreendesse o focinho gelado. Uns pelos. Umas vibrissas e garras. A visão de jade. O mundo como novelo. Pelo menos, tento. Capturar o atributo. De forma menor, que outros vão léguas de frente. Mas a benquerença é vasta, nela me incorporo. A capa que me veste. Fragilidade, tanto quanto minha força. Entenda a ronda que faço de inocente cio. Entenda meus passos no telhado. Cuido para que me nasçam bigodes. A vida, este desafio.
José Antonio Abreu de Oliveira
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