segunda-feira, 28 de outubro de 2024

Banquete de luz

 


Ao contrário dos outros quadros, que pareciam ter sido levados com lama e borra de café, este -  este banquete de amor - consistia na cor. Uma mesa iluminada pelo sol - sobre a qual tinham sido colocados pratos, chávenas e copos - parecia transbordar de luz. A mesa e o banquete tinham sido colocados no plano mais próximo e, de todos os lados, o fundo parecia relegado para uma espécie de escuridão visível. O olhar regressou à mesa. Nos copos havia não vinho, mas luz, e as bandejas tinham pratos de tons extremamente coloridos, como se o convidado tivesse trazido para aquele banquete um apetite, não de comida, mas do espectro inteiro da cor, iluminado por candeeiros de arcos celestiais. A comida não tinha forma. Tinha apenas cor, pastéis ardentes, clarinhos mas intensos. Uma magia de visionário fluía de uma ponta à outra da mesa, todos os pratos tendo sido transformados em abstrações de formas demasiado brilhantes, como se uma pessoa tivesse saído de um cinema e se deparado com uma radiosa tarde de verão no coração da cidade, onde todos os objetos estavam tão carregados de luz que os olhos não conseguiam processá-los. O quadro era como um flash, uma arte que cegava como uma catarata. Aquela comida disposta diante de nós era exatamente assim. Depois, reparei que a parte da frente da mesa parecia inclinada na direção do observador, como se toda aquela luz, estivesse prestes a tornar-se nossa.

Charles Baxter
In: Banquete de amor



Credito da imagem: elegante banquete, com mesa iluminada por luz de velas e vinho, gerada por IA, via Vecteezy













Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

...