terça-feira, 9 de junho de 2020

Uma crônica de aeroporto



Quando atravessei a porta do desembarque no Aeroporto de Guarulhos, na noite desta sexta, uma mulher, destoava do clima festivo que permeia, por regra, os desembarques de aeroportos. Ela chorava em silêncio, provavelmente esperando alguém. 
Doeu ver a cena. Pois não eram lágrimas redentoras de quem imagina o que virá, mas um choro doído e sem contrastes de quem simplesmente não sabe.

Nunca consigo fazer as pazes com o relógio, mas desta vez, o olhar da moça triste que esperava algo me fez esperar. Pedi um café e fiquei a uma distância segura, tratando de roubar um pedacinho da vida dela. 

Não olhou no relógio ou buscou as horas no celular. Não checou atrasos ou cancelamentos no painel luminoso. Não se importou com longos beijos dos casais, famílias que se abraçavam em roda ou manifestações de apreço de amigos antigos. Ficou agarrada à bolsa, como quem se entrega a uma boia em dia revolto depois de lançada ao mar. Vez ou outra, quando percebia que alguém a olhava, corria para enxugar as lágrimas com um lencinho amarelo, borrando de raspão a maquiagem.
Quase uma hora se passou até que ela, resignada, se deu por vencida e foi embora. Tomei o meu rumo, logo em seguida, colocando o relógio para correr. Nunca saberei o que ela esperava encontrar. 

Mas, sinceramente, isso importa?

Leonardo Sakamoto



Imagem da Web



 

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