Os homens buscam retiro no campo, à beira mar, nas montanhas; e tu também tens frequentemente tais sonhos. Mas tudo isso mostra uma grande ingenuidade, pois a qualquer momento podes retirar-te em ti mesmo. Não se pode encontrar retiro mais aprazível ou sossegado do que na própria alma, sobretudo para aquele que possui seus princípios em si mesmo, os quais ele precisa apenas revisar para encontrar a paz de espírito – e por isso entendo a boa ordenação da alma. Entrega-te portanto constantemente a esse retiro, e renova-te. Mas tem sempre contigo as tuas curtas mas essenciais regras, que te evitarão todo o aborrecimento e irritação e te levarão de volta aos deveres que precisas realizar. E afinal, o que te perturba? Os vícios dos homens? Lembra que todos os seres racionais foram feitos uns para os outros, que a tolerância faz parte da justiça e que o mal é involuntário .
Pensa nos milhares que sofreram inimizades, suspeitas, animosidades e conflitos e que agora estão mortos e são pó e cinza, e não te agites mais. Ou por acaso estás descontente com a parte do Universo que te cabe? Lembra-te de mais um dilema: ”se não há uma Providência, então há apenas um conjunto de átomos“, e considera que o mundo é apenas uma cidade. Preocupas-te ainda com as doenças do corpo? Considera que a mente pode se subtrair ao corpo e apoderar-se de suas próprias faculdades, e não se envolver mais com a respiração, sejam eles amenos ou violentos. Enfim, recorda tudo o que aprendeste e aceitaste sobre o prazer e a dor.
Marco Aurélio - 121-180 d.C.
Crédito da imagem: Escultura de Dolores Previtali
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