Isto eu não posso explicar porque para virar lobisomem é preciso acordar uma coisa muito dentro, que só a você diz respeito. Contudo, conto como foi comigo: Era noite de primavera e eu, como um bicho na jaula, estava em casa andando de um lado pro outro de um lado pro outro sem solução. O luar na cozinha. (Os gatos me acompanhavam com os olhos acesos). Um amigo havia falado de uma festa de Cosme e Damião no Morro. Eu queria ir à festa, mas meu coração estava frio e ensopado porque meu coração anda frio e ensopado desde que voltei de viagem. Eu voltei de viagem muito diferente. Discretamente outra. Por coisas que, por fortuna, só a mim dizem respeito. Mas me lembrei de algo que aprendi no caminho: que quando precisasse de silêncio, era o caso de ir pra rua com os pés descalços. Então, pela primeira vez, tirei os chinelos e saí. (Os gatos ficaram no portão, com as alminhas pretas). E o asfalto, que brilhava extraordinário, me conduziu noite adentro sem um arranhão.
Juliana Bernardo
Imagem via Pinterest
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