Vais me ver por aí, com olhar vidrado e sorriso desconjuntado. Não faças caso. Sou apenas eu - perdida, aqui e ali - esperando pelo que há de vir - tanto que nem sei, com as mãos suadas e sôfregas e a pele em arrepios, desse jeito que tu já conheces. Não te espantes.
Sabes que em tudo procuro - nas linhas tortas do dias, no choro triste das horas, nas letras distorcidas das palavras que encontro em páginas roubadas - procuro por tudo aquilo que um dia poderei ser, apesar do tanto que já sou.
Não te preocupes nem te perturbes, mas acolhe-me. Põe a mão no meu ombro, num abraço que me achega a ti, beija-me os cabelos. Acerca-te de mim, mesmo sabendo que neste momento não me terás, porque não te quero. Mesmo assim, por favor, fique perto.
Quero ganhar todo o mundo, a vida. Não vou pedir licença, só quero ir, ir... sem freios, sem pesos.
Por isso não te espantes. Me deixa ficar horas e horas a vagar, através dos ares, das janelas, por sobre os muros e pelos mares afora. Sente contigo somente a minha ausência, já que fui em busca do sonho daquela que serei. Dos desenhos que para mim ainda faço dos caminhos que serão meus a procurar vida.
Não te preocupes, pois tu sabes que sempre volto, não me demoro muito. Tu sempre me esperas e me recebes de volta, mesmo que ao voltar não seja mais a mesma que se foi - só um pouquinho diferente, um pouquinho maior, um pouquinho mais perdida das histórias que vivi. Eu sempre volto.
D. Nascimento
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