domingo, 20 de março de 2022

Te querendo eu vou tentando me encontrar

 


prometemos inúmeras vezes que não trocaríamos aquele amor. e então a nossa solidão é o vão que se formou entre todas as ruas. são as ruas: antes lavadas por suor e chuva e os teus beijos e agora existentes num motivo enganado de que, ah!, tudo ainda há de passar. há, sim! mas, quando vejo, amor, já estou cantando aquela música de caetano: ‘é verdade, eu não minto’.

te li poesia via videoconferência, chamei quando deu, também aprendi a não chamar o tempo todo, prendi a respiração por dois minutos debaixo da água numa antiga banheira de porcelana e depois emergi. arrastei a meia por vezes e vezes e vezes no chão da sala que ficava no prédio da década de cinquenta. quebrei as taças, colei caixa com fita isolante. fiquei dias de cama e pensei que morreria - eu sempre penso que vou morrer. aprendi numa terça-feira há dez anos que o amor acaba ao meio dia e às vezes às três da tarde – quando é sempre calor. descobri que amor jurado a não ser troca não se encaixa nesse aprendizado – onde andam vocês e teus sonhos? tentei tudo: banho de ervas, cento e oito suryas namaskar, terapia, escrever um livro, chorar olhando tuas fotos – só me aumenta a falta de ar. você, seguiu.

me reordena diariamente a sentença de Sena: ‘nada nos salva desta porra triste’.


Olívia Nicoletti 

 

 

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