Dizes que gostas do meu ombro, mas como pode ser assim? Ombro não é coisa de que se goste, não é coisa sequer que se lembre que exista.
Insistes.
Falas da curva do meu ombro, da pele mais doce, do cheiro mais quente.
Que o meu ombro é assim uma espécie de culminar de toda eu.
Encolho-os – os ombros, pois então – sem perceber muito bem o que hei de responder.
Parece
que te devia dar alguma coisa em troca, não ficar simplesmente a olhar
nos teus olhos a tentar tirar todo o sentido do que acabaste de dizer.
Sorris e deixas-me estar.
Vim deixar-te ao comboio. Tocas-me levezinho no ombro, com o teu olhar em mim.
Vim deixar-te ao comboio. Tocas-me levezinho no ombro, com o teu olhar em mim.
Sei que devia sorrir ou deixar cair alguma doçura, mas fico assim sem saber que me fazer.
Deixas-me
com um beijo apertado, como são todos os teus. Não posso deixar de
pensar que aquele teu olhar me estava a pedir qualquer coisa mais que o
descartável Adeus, que me ouvi dizer.
Ainda te viraste para trás e sorriste. Não sei se sorri também.
Sei que quando já não via nem rastro do teu comboio, senti-me a sufocar com todas as palavras que não
te disse, com todos os gestos que guardei, com tudo o que tinha para te
dar e não dei.
Agora é tarde, já te foste sem dia para voltares a mim. No meu ombro ainda a ponta dos teus dedos a pairar. Sorrio enquanto o cheiro. Me cheiro. Levezinho, levezinho para não chorar.
Agora é tarde, já te foste sem dia para voltares a mim. No meu ombro ainda a ponta dos teus dedos a pairar. Sorrio enquanto o cheiro. Me cheiro. Levezinho, levezinho para não chorar.
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Imagem via Gettyimages

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