Abri as jinelas do quarto, mode ver a orora. Um vento parido ao longo do vale veio me enregelar, mas tá bão, apesar de tá ruim. Escovei os dentes e apliquei um spary de mel, própolis, romã, gengibre, eucalipto e menta na goela. Gosto. Deixa o hálito da gente como galã de holiúdi. Assei um pão de trocentos grãos na chapa, cu queijo branco. O treco grudou, raspei, mas tá bão, apesar de tá ruim também.
Aguardo a orora.
Pruque mim agrada a cor rosada das nuves. Cafonas, eu sei, a orora é cafona, mas tenho 62 anos, num faz mais diferença esses julgamentos. Tenho medo só de uma coisa: virar véio covarde, assustado, conservador, agarrado a previléjos, odeio previléjos na vida, mormente gente otária possuidora. Gosto do ser humano, no geral, mas de perto eles são pobremas. Mas aprecêio pobremas, de alguma vez me envolvo com pobremas dos zoutros, ou pioro, ou melhoro, nunca sei ao certo, não fiz psicanális, num sei, mas tã bão, embora esteja ruim pra caralho.
Li um treco nesse feicebuque que me fez rir. Uma senhora falou que prefere ser beijada em Paris, parece, e a mulé é feia que dói. Tenho muito respeito por muleres feias, mesmo pruque eu nem nunca fui bonito, mas num gostei do olhar tresvarandado da mulé, uma coisa de nojo dela, um aspre, um num sei, me pareceu ter subaquêra. Invoquei com ela. Nunca a beijaria nem que nóis dois estivessem pelados na Sibéria, precisando abraço de esquentamento.
E a orora num chega...tá atrasada. Tentaram prendê-la em Porto Alegre? Sim, algo aconteceu.
Virá, de qualquer forma. Mais um jato de spray de composto de coisas naturebas, e estou pronto para não beijar a mulé feia. a anti-orora. A anti-vida, subaquêra é demais pro meu gosto.
Bom dia.
José Antonio Abreu de Oliveira
imagem via Pinterest
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