quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Feminino Plural - Virginia Woolf


A inglesaVirginia Stephen nasceu no dia 25 de Janeiro de 1882, em Londres. Foi romancista e crítica literária. Perdeu sua mãe quando tinha 13 anos de idade.
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"A vida é como um sonho; é o acordar que nos mata."
Virginia Woolf.
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Virginia cresceu na era vitoriana, numa familia que cultivava a prática da escrita e da literatura. Seu pai, seu avô e bisavô paternos foram escritores, que legaram diários para os descendentes e sua mãe escrevia quantidades de cartas diariamente. Ela se interessou por essa prática a partir dos quinze anos, e sempre manteve diários.

.Leslie Stephen
O pai, Sir Leslie Stephen
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"Escrever é que é o verdadeiro prazer; ser lido é um prazer superficial."
Virginia Woolf
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Virginia teve dificuldades quando criança, só aprendendo a falar depois dos três anos de idade. Mas o gênio despontou em seguida: aos seis anos de idade já contava histórias que deixavam a todos deliciados. Sempre foi uma leitora compulsiva, fato que se pode explicar como uma espécie de compensação pelo fato de não ter tido uma educação universitária, como os irmãos Thoby e Adrian, que formaram-se em Cambridge, o que a deixou ressentida por toda a vida. Daí sua fome pelos livros. Lia muito, procurava aprender por si mesmo, sempre procurando a ajuda do pai, que era editor e um homem muito erudito.
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A mãe, Julia
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Ainda bem jovem foi vítima de abuso sexual por parte de seu meio-irmão George (filho do primeiro casamento de sua mãe, Julia). Provavelmente esta experiência traumatizante possa explicar sua frigidez sexual. Não se envolvia com meninos, e aos 16 anos apaixonou-se por uma mulher, Madge. O amor entre elas foi platônico, puramente afetivo, sem sexo.
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"A verdade é que eu sempre gosto das mulheres. Gosto da falta de convencionalismo delas. Gosto da integridade delas. Gosto do anonimato delas."
Virginia Woolf
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Seu pai morreu em 1904, e fortemente abalada Virginia tentou o suicido se jogando pela janela, mas não conseguiu, pois a janela era baixa e se feriu sem muita gravidade. No corpo, pois sua alma estava ferida muito profundamente, bem como sua sanidade mental. Costumava dizer que ouvia os pássaros cantando em grego. Com a morte do pai, Virginia e seus irmãos foram morar em Bloomsbury, bairro de Londres. Nesta casa, eles recebiam visitas de um grupo de amigos, e as reuniões formaram o "Grupo de Bloomsbury", na verdade um círculo de intelectuais que se insusrgiam contra as tradições literárias, políticas e sociais da era vitoriana.
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Virginia e sua mãe
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Nesta ocasião Virginia apaixonou-se por uma outra mulher, Violet. Segundo seu biógrafo, o sobrinho Quentin Bell, filho de sua irmã Vanessa, mais uma vez foi um caso de paixão platônica. Virgínia se expõe publicamente em sua condição homossexual. O grupo, composto de homens e mulheres, muitos dos quais publicamente assumidos como homossexuais, era considerado de baixo nível pela sociedade londrina. Rebeldes, usavam roupas escandalosas, falavam palavrão publicamente e eram adeptos do sexo livre. Apesar de toda a confusão, o grupo de Bloomsbury foi importante na formação de Virginia, pois todos eram intelectuais.
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A casa da família Stephen
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Mas um fato viria alterar mais uma vez o frágil equilíbrio emocional de Virginia. A morte de seu irmão Thoby, ao qual era muito ligada. A família, que nunca fora muito ajustada, se desestrutura. Virginia e o irmão mais novo, Adrian, vão morar juntos. Afetivamente falando, Virginia era uma pessoa de difícil trato. Alguns de seus amigos homossexuais, Lytton Strachey e John Maynard Keynes, quiseram casar-se com ela, mas não deu certo. Finalmente em 1912 Virginia casa-se com Leonard Woolf, que estava apaixonado por ela. Os dois compraram uma gráfica que se transformaria na editora Hogarth Press. Assim Virginia passaria a publicar seus próprios livros, além das obras de T.S.Eliot, E.M.Forster, Katherine Mansfield e as primeiras obras traduzidas de Freud por James Strachey (irmão de Lytton Strachey).
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Pode-se dizer que o casamento fez bem para ela, pois favoreceu um pouco seu equilíbrio emocional e deu-lhe uma certa segurança literária, já que o marido não se importava com sua frigidez sexual e admirava sua capacidade intelectual.
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Virginia e o irmão Adrian, em 1891
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Em março de 1915 publica seu primeiro romance “The Voyage Out” (que começou a escrever por volta de 1907/1908). Ela queimou sete versões do livro, pois sempre imaginou que seus escritos não eram bons para o mundo. Esperou ansiosamente pela critíca, que foi boa. Sempre foi muito sensível à crítica, com uma intensidade doentia e mórbida. A fragilidade de seu estado mental não lhe permitia enfrentar uma critica desfavorável. Virginia tinha medo de se expor, literariamente falando. Era tímida e ao mesmo tempo muito exigente consigo mesma. Antes de produzir algo, ela lia vorazmente, escrevia e escrevia muitas vezes...
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Mas com as criticas favoráveis sua saúde melhorou.
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Em 1919 publicou “Night and Day”, que não foi bem aceito pela crítica, o que a deixou muito abalada. Apesar do trauma, curou-se de uma forma extraordinária. Decidiu escrever outro livro, e melhor! E em 1922 publica “Jacobson’s Room” que foi assim festejado por T. S. Eliot:
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"Você se libertou de qualquer compromisso com o romance tradicional e seu talento original. Parece-me que construiu uma ponte sobre certa lacuna que existia entre seus outros romances e a prosa experimental de "Monday or tuesday", conseguindo um sucesso notável".


"O meu maior desejo sempre foi o de aumentar a noite para a conseguir encher de sonhos."
Virginia Woolf
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A importância deste romance é fundamental para Virginia. Marca sua maturidade e a lança para a fama. Seus próximos lançamentos “Mrs Dalloway” e “The Common Reader” foram sucessos aclamados pela crítica, bem como “To the Lighthouse” e “The Waves”.
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Nesta fase de sua vida conhece Vita, a grande paixão de sua vida. Como Virginia, Vita também era casada, mas o biógrafo Quentin Bell, apesar de falar pouco sobre o assunto, deixa claro que as duas não chegaram a ter um “caso” no sentido literal.
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Virginia era muito carente emocionalmente, e qualquer pessoa que lhe dedicasse um pouco de atenção era agraciada com seu intenso afeto... mas só isso: ainda segundo seu biógrafo, sexo era coisa fora de questão.
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Em 1929 Virginia lança “Orlando”. Neste romance a personagem que dá nome ao livro sofre uma transformação física. De um lindo jovem passa a ser uma graciosa dama... todos identificaram “Orlando” como Vita...
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Em 1932 publica “The Waves”, considerado pela crítica como sua obra-prima.
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Sua vida dá uma guinada no ano de 1937, com a publicação de “The Years”. Ela sabia que era um livro ruim, e com o advento da segunda guerra mundial e do nazismo, sente a loucura se aproximando de seu íntimo de forma irreversível. Ela e Leonard pensaram em se suicidar juntos, com medo da guerra, mas depois de ver Londres bombardeada, desistiu. Escreveu em uma carta a Ethel Smyth:
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“... o que tocou e na verdade feriu o meu coração em Londres [durante os bombardeios dos nazistas] foi aquela velha mulher, suja de fuligem nos aposentos dos fundos, preparando-se, depois de um ataque aéreo, para enfrentar o próximo... E também a paixão da minha vida, a cidade de Londres — ver Londres em escombros, isso também atingiu meu coração.”
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Com o decorrer da guerra, o estado mental de Virginia se deteriora, e ela enlouquece de vez. Em 1941, após diversas tentativas de suicídio e uma grave crise de depressão, Virginia Woolf se afogou no rio Ouse.
.Seu fim é tristemente descrito pelo seu biógrafo:
.“Na manhã de sexta-feira, 28 de março, um dia claro, luminoso e frio, Virginia foi como de costume ao seu estúdio no jardim. Lá, escreveu duas cartas, uma para Leonard e outra para Vanessa [sua irmã] — as duas pessoas que mais amava. Nas duas cartas explicava que vinha ouvindo vozes e acreditava que nunca mais ficaria boa; não podia continuar estragando a vida de Leonard. Ela colocou o bilhete sobre a lareira da sala de estar, e cerca de 11h30 esgueirou-se para fora, levando sua bengala de passeio; e atravessou os prados até o rio. Leonard acreditava que ela já havia feito uma tentativa para se afogar: assim, teria aprendido com o fracasso, e estava decidida a não falhar de novo. Deixando a bengala na margem, ela esforçou-se para pôr uma grande pedra no bolso do casaco. Depois encaminhou-se para a morte, 'a única experiência', dissera um dia a Vita, 'que nunca descreverei'.”
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Última carta a Leonard Woolf
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“Querido,

Tenho certeza de que estou enlouquecendo de novo. Sinto que não podemos passar por outra daquelas terríveis fases. E desta vez não ficarei curada. Começo a ouvir vozes, e não posso me concentrar. Assim, estou fazendo o que me parece melhor. Você me deu a maior felicidade possível. Não creio que duas pessoas pudessem ser mais felizes até chegar esta doença terrível. Não consigo mais lutar. Sei que estou estragando a sua vida e que sem mim você poderá trabalhar. E você vai, eu sei. Está vendo, nem consigo mais escrever adequadamente.Não consigo ler. O que quero dizer é que devo a você toda a felicidade da minha vida. Você foi absolutamente paciente comigo e incrivelmente bom. Quero dizer isso — e todo mundo sabe. Se alguém pudesse me salvar, teria sido você. Perdi tudo, menos a certeza da sua bondade. Não posso mais continuar estragando sua vida.Não creio que duas pessoas tenham sido mais felizes do que nós fomos.”

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Fica mais do que nítida nesta carta a patologia mental de Virginia. Infelizmente isto é muito comum e não causa estranheza. A julgar pelos gênios de Dostoievsky, Allan Poe, Proust, Maiakovsky e tantos outros, o talento e a genialidade andam sempre lado a lado com transtornos obsessivos-compulsivos. Literatura e patologia mental são meio que “irmãos”, e a esses “queridos loucos e loucas” devemos tanta beleza...

Em 1972, seu sobrinho, Quentin Bell (1910-1996) publica a biografia autorizada de Virginia Woolf. O livro é uma comovente homenagem, e relata com minuciosos detalhes acontecimentos e os principais personagens que fizeram parte da vida da escritora. Suas fontes, além do material legado pelo tio, Leonard, marido de Virginia, são documentos e fotografias de família, além de ele próprio ter convivdo com Virginia.

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11 comentários:

Pandora disse...

Pocha!!! Que história!!! Que mulher!!! Uma história incrivel e tão dolorosa!!! Realmente parece que a arte vem sempre aliada com um peso tão grande de loucura e tormentos é uma coisa dificil de mediar!!!

Ah, concordo com Virginia: "A vida é como um sonho; é o acordar que nos mata."; "Escrever é que é o verdadeiro prazer; ser lido é um prazer superficial."!!!

Tucha disse...

Li apenas dois livros de Virginia Woolf, um estilo refinado e gostoso de ler. Gostei de saber mais da bibligrafia. Um livro / filme interessante é os As horas, que mescla os últimos dias de VW com histórias de mulheres que lêem um dos seus livros.

Sueliton Oliveira disse...

Olá, e então, gostei muito da sua postagem =D Eu sou um apaixonado por Virgínia Woolf. Mrs. Dalloway é maravilhoso, um dos melhores livros desta grande mulher.
Parabéns pelo blog.
É muuito do meu agrado ^^

Valéria Russo disse...

LINDA ESTRELA..
que maravilhosa história da virginia...
eu assisti o fime "as horas" que faz um relato sobre sua vida e seu suicido e também seus amores sempre tão platonicos..
foi uma mulher de inteligencia brilhante e inigualavél, a frente do seu tempo...
eu a admiro.
obrigada por nos elucidar ainda mais.
bjuivos no seu coração.

Vanilza Freitas disse...

Eu não conhecia a Virgínia, nem tinha antes ouvido alguém falar sobre ela, mas é uma história de vida e morte bem interessantes. A loucura andando lado-a-lado com a genialidade e os amores platônicos e de ceta forma proibidos e inesperados.
Adorei.
Bjs:.

Ventania da Noite disse...

Querida amiga,

Deixo aqui meu carinho e te desejo uma ótima sexta feira.

Deus esteja sempre contigo.

Abraços.

Lilá(s) disse...

Belissimo post! gostei imenso de ficar a saber mais de uma das minhs escritoras preferidas, conhecia muito pouco , a carta que deixou ao marido e pouco mais, obrigada por esta preciosidade.
Beijos

Úrsula Avner disse...

Oi Dalva,

sou uma adimiradora de Virginia Wolf e a história da vida dela é mesmo perpassada por muitos obstáculos. É lamentável que tão talentosa escritora tenha tido um fim tão triste. Ótima postagem. Bj.

lis disse...

Incrivel mulher!
e lamentável fim.

G I L B E R T O disse...

Post necessário e urgente para todos que, como eu, ama a literatura! Descrevestes com fotos, citações e fatos a biografia de Virginia em tão pouco tempo!

Imprescindível! Notável! Parabéns!



gilberot (nel mezzo del cammim)

DARIO disse...

Que resumo biografico prefeito! A historia de Virgínia foi muito intensa e densa... viveu menos do que deveria se esperar, todavia seu legado e sua historia são suficientes pra que ela nunca fique relegada ao esquecimento. Fica a dica do filme AS HORAS (Dir. Stephen Daldry)onde ela está presente e vivida pela soberba atuação de Nicole Kidman (fazendo jus ao oscar conquistado nessa interpretaçao, filme sensivel onde a consciencia da morte e sua relaçao com condiçao individual de cada ser é o grande protagonista!

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