Da gaiola, uma melodia triste adocicava o ar ao cair da tarde. Desde que sua esposa o trocara por homem mais jovem, enclausurou-se, afastando os amigos um a um até que sobrasse apenas o passarinho de penas coloridas - último presente da ex. Contudo, era pássaro do mato, que sabia solfejar liberdade e, por conta disso, a cantiga foi rareando até que ficassem apenas piados de tristeza. Vendo a si mesmo no bichinho, abriu a porta da gaiola e exigiu que voasse para bem, bem longe, levando o sofrimento dos dois embora. O pássaro se foi, não conseguindo carregar a pesada dor do pobre homem. E por escolha e não imposição, volta todas as tardes a fim de cantar para ele.
Leonardo Sakamoto
Crédito da Imagem: fotografia de Mariana Datrino
2 comentários:
Muito lindo foto e texto! beijos,chica
um dia meus pássaros também irão.
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